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Funai, Ibama e PF monitoram fronteira com o Peru

Funai
16 de Fev de 2007

Foi realizado nessa quinta-feira (15) uma ação de monitoramento da fronteira entre o Brasil e o Peru, na região norte do estado do Acre, ao longo do Paralelo 10, reunindo representantes da Funai, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e Polícia Federal. O objetivo da missão era fiscalizar a possível entrada de madeireiros peruanos em território nacional, que além de ameaçar as riquezas naturais da região, tais como o mogno, que tem causado a migração forçada de grupos indígenas autônomos que vivem nessa parte da Amazônia e que podem dar início a conflitos com os povos indígenas contatados e moradores ribeirinhos ao longo dos rios Envira, Gregório, Tarauacá e afluentes.

O sobrevôo em helicóptero do Ibama por cerca de cinco horas partiu de Feijó, foi para Cruzeiro do Sul, acompanhou toda a linha de fronteira seca marcada pelo Paralelo 10, até o posto de fiscalização da Funai Xinane, localizado às margens do rio Envira, retornando sobre o rio Envira até a cidade de Feijó. A região é de difícil acesso, bastante sinuosa, com morros que anunciam o início da cordilheira dos Andes. No início do ano passado havia sido denunciado por José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, a ação de madeireiros peruanos nas nascentes do rio. No período das cheias, desciam pelas águas troncos e pranchas cortadas de mogno, assim como caixas de óleo para moto-serra e outros materiais peruanos, o que indica a ação de madeireiros nos formadores do rio. Após algumas expedições feitas pela equipe do posto de vigilância em terra, o sobrevôo visava confirmar se a ação estava se dando em território nacional ou além da fronteira. "Temos escutado tiros e barulhos de moto-serra cada vez mais perto, e essa é uma região isolada, o que não deveria acontecer", afirmou o sertanista Meirelles. "Felizmente, ao menos aparentemente, os madeireiros ainda não chegaram ao Brasil. Mas o que eles estão fazendo do outro lado de lá da fronteira vai ter impacto aqui, tanto ambiental como socio-etnológico, colocando em conflito os grupos indígenas autônomos que habitam essa área."

De acordo com o superintendente do Ibama no Acre, Aselmo Alfredo Forneck, não há como controlar a ganância dos que estão do lado de lá, mas é preciso proteger a riqueza natural e etnológica brasileira, garantindo a autonomia e a liberdade dos índios. "É uma ação continuada. Ao longo do ano passado monitoramos a fronteira norte do Acre, e será dada continuidade a esse trabalho por esse ano e no próximo, com sobrevôos contínuos para verificar a degradação e as invasões na área."

"O sobrevôo é uma ferramenta importante, mas não a única de trabalho, pois não se sabe do alto o que está acontecendo por baixo das árvores, dentro da floresta", disse o chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, Marcelo dos Santos. "Mas os dados empíricos que temos é que a concentração de índios está aumentando do lado brasileiro, o que pode significar que eles estejam sofrendo ameaças do outro lado da fronteira", afirma Santos.

No local, Meirelles, juntamente com Antonio Clefson da Silveira Lima, chefe do posto do Ibama em Feijó - que conduziram e acompanharam a fiscalização -, estão construindo bases de apoio e abastecimento ao longo dos rios Envira e Tarauacá. A logística em abastecimento permitirá o apoio constante dos helicópteros do Ibama sempre que estiverem na região. "Essa ação já vem sendo feita há algum tempo. Com as aeronaves e bases poderemos intensificar ainda mais o monitoramento aéreo da área, bem como avaliar as degradações que sejam feitas ao longo dos rios Envira, Tarauacá e seus afluentes", disse Lima. "Alem disso, o simples barulho, constante, do helicóptero já serve para anunciar aos invasores que, a cada um mês, dois meses, a área é fiscalizada, e que eles estão correndo risco se continuarem insistindo."

A Polícia Federal, responsável pelo patrulhamento e fiscalização das fronteiras nacionais, tem acompanhado não apenas as invasões de madeireiros peruanos em solo brasileiro, mas também possíveis rotas de tráfico de drogas, de acordo com o agente Ricardo Gazola. "É uma área de difícil acesso, mas sujeita ao carregamento por mulas, que podem trazer pasta básica de drogas junto ao corpo e depois carregá-las em barcos. Temos especial atenção e estamos investigando a ação de traficantes nas cidades fronteiriças", afirmou. Segundo o agente, pequenas invasões podem significar um descuido das autoridades, e abrir portas para um tráfico de grande porte. "Por isso estamos atentos, e trabalhando em conjunto com os outros órgãos", disse Gazola.

Durante o sobrevôo na área, foram vistas aldeias e vestígios, como roças de grupos indígenas autônomos. "É possível que viva aqui três grupos diferentes. Alguns agricultores, que podem ser do grupo lingüístico pano, por causa de seus hábitos alimentares e suas lavouras, além de pelo menos um outro grupo nômade, que ocupa a região que vai do alto Envira às suas cabeceiras no Peru. Esse talvez seja o mais ameaçado pelos madeireiros peruanos", relatou Meirelles. Há dois anos, em 2004, Meirelles foi flechado no rosto após sofrer um ataque de índios nômades da região, no posto do Xinane. O grupo, que parecia ser bastante agressivo, poderia ser da etnia Masku, que tem sofrido ataques no Peru tanto por índios contatados, como os Ashaninka e Jaminawa, quanto dos madeireiros.

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