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Funai flagra garimpeiros no rio Jutaí

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Leonêncio Nossa
26 de Ago de 2002

Draga revolvia os barrancos e leito do rio e operava com mercúrio, poluente altamente tóxico, para retirar cerca de 2kg de ouro por mês.

Indigenistas federais interditaram, neste domingo (26/8), um garimpo ilegal de ouro no Rio Jutaí, numa área isolada do Alto Solimões, no Amazonas. Quatro homens trabalhavam de madrugada na draga de 22 metros de comprimento, a 18 km da confluência com o Rio Bóia, quando foram abordados pela expedição que, desde o início de junho, desenvolve ação contra madeireiros e garimpeiros.

A extração clandestina de ouro estava fora do Território Indígena do Vale do Javari, mas o sertanista Sydney Possuelo, chefe da expedição e representante do Ministério da Justiça, interditou o garimpo ao constatar, que não havia documentos ou licença ambiental. A Polícia Federal de Tabatinga foi acionada e orientou o grupo a levar a draga para Jutaí. Na cidade, a máquina ficará em poder da Polícia Militar até a chegada de agentes federais de Tabatinga.

Em apenas oito dias de extração de ouro no Jutaí, a draga abriu um buraco de cerca de 50 metros de comprimento no barranco de um trecho da margem direita do rio, destruindo a vegetação, que encobria a área. Uma ilha se formou com a areia retirada do fundo do rio pela máquina. "Há dois meses a gente está subindo o Jutaí, furando onde achar que tem produção", afirmou o operador de máquinas Antônio dos Santos, responsável pelo serviço. Ele disse saber apenas, que o dono do garimpo se chamava "Paraíba".

Paraíba seria cunhado, segundo um morador da região, de um empresário de Jutaí, cidade mais próxima do garimpo, a dois dias e meio de descida de barco a motor. O problema ocorre desde 1984, segundo o negociante Carlos Oliveira, o Carlão, quando chegaram grandes dragas vindas de Porto Velho, Rondônia. Depois de desligar o motor da draga, os homens denunciaram outros garimpos de ouro, nos rios Mutum e Bóia, afluentes do Jutaí. Na avaliação de Possuelo, a atuação ilegal de garimpeiros, que ameaça inclusive a terra indígena, ocorre pelo fato de a atividade envolver a elite local. "É difícil resolver esse problema por falta de interesse das autoridades da região, a começar pelo prefeito", afirmou. "O Ibama deveria ser mobilizado, pois tem força regulamentada para retirar essas dragas dos rios."

Interesses
Cada um dos quatro garimpeiros, atuando na draga, receberia de "Paraíba" 4% do ouro extraído. Em um mês - e usando três litros de mercúrio, poluente altamente tóxico e persistente - eles conseguem, em média, dois quilos de ouro. Deixam um rastro de buracos nas margens e leito dos rios por onde passam, com grave impacto sobre as espécies aquáticas. Ao retornar à cidade, recebem por volta de R$ 1.200,00.

Ladainhas e lamentos não faltaram nos quartos precários da balsa da draga. "Eu era fotógrafo de praça em Manaus antes de trabalhar em garimpo", contou Aloísio Marinho Araújo, 44 anos. "Isso é um sufoco horrível."

A relação entre os donos de dragas e moradores da região é marcada por interesses. Para o pescador Sebastião Paiva Costa, de 40 anos, os garimpeiros não são os "perseguidores" do Jutaí. "Quem estraga mesmo o rio são os grandes pescadores, que enchem as praias de malhadeiras (redes de espera)", disse. "Aqui, garimpeiro até ajuda, dá um pouco de sal e farinha pra gente."

Com quatro filhos pequenos, o pescador perdeu a mulher Maria Nunes Bezerra, no início do mês, em decorrência de um acidente de barco. Ele afirma que a pesca, única fonte de renda da família, está cada vez mais difícil. "Tem surubim no rio, mas a gente não tem malhadeira boa. Tem muito ovo de tartaruga, mas a praia está cheia de redes. Tem queixada no mato, mas precisa levar pra cidade, onde só se chega com combustível no motor do barco", diz, sem fazer qualquer alusão ao fato da coleta de ovos de tartaruga e caça serem ilegais, sobretudo para comércio nos mercados.

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