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Funai esclarece conflito Ashaninka

Site da Funai
12 de Jun de 2003

Para conter a propagação de informações inverídicas sobre o recente conflito na Amazônia Peruana, o diretor da Assuntos Fundiários da Funai, Antonio Pereira Neto, esclareceu ontem (10) que nenhum Ashaninka brasileiro
participou do episódio. O órgão indigenista esclareceu que os Ashaninka brasileiros têm uma política de paz, tranqüilidade e autonomia, exemplares. Segundo Neto, eles são cerca de 1.500 pessoas que moram nas Terras Indígenas Kampa e Isolados do rio Envira, no município de Feijó/AC; Kampa do Igarapé Primavera, no município de Itarauaca/AC; Kampa e Kaxinaua do Rio Breu e Kampa do Rio Amônia, no município de Taumaturgo/AC e Jaminawa/Envira, no município de Feijó. "Em momento algum nenhum Ashaninka brasileiro participou ou teve intenção de participar de qualquer fato agredindo os índios isolados, seja em território brasileiro, seja em território peruano. Isso tem que ser bem colocado para a opinião pública", disse Neto.

A Funai se colocou à disposição do governo peruano para assessorá-los em ações de paz para a Amazônia Peruana - ficando claro que o governo brasileiro respeita a soberania peruana na região e não vai interferir nos assuntos internos do país vizinho. O órgão indigenista brasileiro colocou-se à disposição para oferecer um trabalho indigenista, objetivando uma solução pacífica, já que tem tecnologia, legislação e gente preparada e experiente para ajudar. O governo brasileiro, por meio do Itamarati e da Funai tomaram providências para uma reunião do Grupo Brasil/Peru de Cooperação Ambiental Fronteiriça, na próxima sexta-feira (13), "para colocarmos nossa preocupação e nossa disponibilidade para colaborarmos com o governo peruano".

CONFLITO

O conflito deu-se entre índios isolados e índios Ashaninka, moradores do território peruano, não exatamente na fronteira com o Brasil. Os fatos ocorreram no Peru, na aldeia Doce Gloria, no Departamento de Ucayali, próximo às cabeceiras do rio Juruá. Os motivos que levaram ao conflito entre os Ashaninka peruanos e índios isolados peruanos não são do exato conhecimento nem do governo peruano, nem do governo brasileiro. Pressupõe-se que a causa do conflito tenha sido a entrada de madeireiros ilegais em território da Amazônia Peruana, vindos do Departamento de Madre de Dios, chegando até às cabeceiras do rio Juruá, passando por territórios de índios isolados, na Zona Reservada do Alto Purus, uma unidade de conservação, criada ainda no governo Fujimori. Esta é uma probabilidade que ninguém ainda consegue provar, mas supõe-se que o conflito entre as etnias foi causado pela penetração dessas madeireiras ilegais na região.

De acordo com o diretor de Assuntos Fundiários, os índios isolados que foram vítimas do embate com os Ashaninka são pertencentes a uma etnia conhecida como Maskos, povo nômade, que transita desde as cabeceiras do rio Iaco, em território peruano, até as cabeceiras do rio Envira e região do rio Juruá, tendo inclusive já penetrado em território brasileiro há quatro anos. O recente conflito foi em território peruano. Esclarecemos que os Maskos são uma das varias etnias indígenas ainda isoladas da região. "Sabemos que os índios que morreram no conflito são Maskos porque os Ashaninka peruanos trouxeram várias flechas, analisadas por sertanistas da Funai, que confirmaram se tratar de artefatos daquele povo. Portanto, não procede a informação da Revista Veja, na qual afirmam serem Amawaka os índios vitimados", afirmou Neto.

A Funai informou também que não são verdadeiras as informações publicadas na imprensa, afirmando que esses grupos são meia dúzia de tribos distintas que moram em aldeias separadas e que tenham entre 30 e 200 habitantes. "Esta informação é falaciosa, e ninguém pode dizer ser verdade porque ninguém foi até lá para confirmá-la. Os Masko nem aldeia têm. São nômades. Vivem de rios em rios. Dependendo da época do ano, caçando ou pescando. Sabe-se apenas que constituem um grupo grande", explicou Neto.

A preocupação da Funai é que a informação jogada ao público de forma aleatória leve a entender que o conflito envolve os Ashaninka brasileiros. Desde 1987, o governo brasileiro, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai) mantém uma Frente de Proteção Etno-Ambiental, no rio Envira, município de Feijo-AC, com o único objetivo de proteger os índios isolados que vivem em território acreano e brasileiro. Essa política visa a proteção sem nenhum objetivo de contato. A Funai não pensa em fazer contato com esse povo porque a política brasileira é de protegê-los no seu território, no seu sistema natural de subsistência. No território peruano, também há índios isolados, mas não existe uma política definida como no Brasil.

De acordo com Neto esse tipo de agressão aos isolados peruanos pode ocorrer pela ausência de uma proteção permanente, como ocorre em nosso país. Mas existe um grupo de trabalho, formado no ano 2000, chamado grupo Brasil/Peru de Cooperação Ambiental Fronteiriça, coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro (MRE) e pelo ministério das Relações Exteriores do Peru, formado para monitorar e acompanhar essas situações fronteiriças, especificamente de combate a ilícitos ambientais e de proteção aos índios isolados dos dois países. A opinião pública tem que saber que tanto o governo brasileiro como o peruano estão interessados na proteção dessas populações. O Brasil de uma forma mais adiantada, e o Peru com todo o empenho que tem manifestado. Portanto, o fato ocorrido transcende os governos. É fruto da ilegalidade perpetrada provavelmente pela invasão de madeireiros peruanos no território desses índios isolados.

Segundo o diretor de Assuntos Fundiários da Funai e indigenista há 30 anos, lamentavelmente, as informações publicadas numa revista brasileira levam a crer que os Ashaninka são bandidos comuns, uma população sem escrúpulos. "Eles são índios com uma cultura avançada e um sistema de vida que é um modelo para outras comunidades indígenas da Amazônia. Os Ashaninka brasileiros estão demonstrando como se faz uma gestão florestal adequada, como ter autonomia em suas terras, como resguardar o seu território. Foram eles os primeiros interessados em abrandar esse conflito. Foram ao Peru e tentaram obter informações e contato com os 'parentes' peruanos para pacificar a situação. São verdadeiros embaixadores da paz nessa região", concluiu Neto.

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