Funai/DF
16 de Fev de 2007
Durante sobrevôo de fiscalização da região amazônica na fronteira com o Peru, no norte do estado do Acre, em operação conjunta entre Funai, Ibama e Polícia Federal, na quinta-feira (15), foram vistas algumas aldeias, roças e acampamentos de caça de grupos indígenas autônomos. Possivelmente pertencente ao grupo lingüístico pano, em razão dos itens plantados em sua agricultura, os pontos geográficos são mantidos em sigilo para impedir ameaças aos índios. "Tratando-se de índios isolados, nunca podemos afirmar quem eles são. Temos alguns indicativos. Mas o importante não é saber quem são eles, a qual grupo pertencem, e sim protegê-los, garantir o seu território e deixar que vivam do jeito que quiserem, como nações autônomas", disse o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Funai.
A área possui mata intacta, e não foi ocupada durante o período da seringa na região. Como é uma área de difícil acesso, foi possível que os índios sobrevivessem às "correrias", como eram chamadas as caçadas aos índios que ocorreram até os anos 1970. No entanto, com a recente exploração madeireira no lado peruano, tem tido início um deslocamento forçado de grupos indígenas autônomos pela região, o que pode gerar conflitos com grupos indígenas contatados que vivem no Brasil, assim como entre os próprios índios autônomos. "Temos notado um aumento da concentração de índios isolados nas cabeceiras do Envira. Tem alguns grupos nômades que sempre passavam por aqui, a cada dois, três anos, mas a gente tem percebido que eles estão voltando cada vez mais rápido, e indo cada vez mais longe no território de outros grupos indígenas", afirma Meirelles.
A aldeia que foi sobrevoada pode ser pano, da família Jaminawa. De acordo com Meirelles, há menos de dez anos foi contatado um grupo Jaminawa, no lado peruano, por missionários americanos. Os Jaminawa foi um dos últimos grupos a ser contatado no Acre, a ter sido caçado e encurralado nas "correrias". Ao lado da cidade de Feijó, às margens do rio Envira, há uma aldeia Shanenawa. Nela, vive uma senhora chamada Maria, capturada nos anos 1950, numa expedição de caça chefiada por um conhecido caçador de índios da região, Pedro Biló. A ela foi arrumado um marido na aldeia, Antonio Alves, e mesmo algum tempo depois, ela continuava a encontrar seus parentes, ainda autônomos, nas matas da região. Falava a língua da família pano, e pelo corte de cabelo e hábitos, pode pertencer a uma comunidade do grupo Jaminawa. "Já avistamos índios pelados, com o cabelo raspado dos lados, bem ao estilo Jaminawa. Eu não me surpreenderia se um dos grupos isolados da região fosse Jaminawa. Mas não podemos afirmar nada, insisto, com certeza, em se tratando de índios isolados", pondera Meirelles.
Segundo o sertanista, há pelo menos três grupos indígenas diferentes na área. O temor das autoridades, nesse caso, é que o aumento da concentração de índios isolados causado pelo avanço dos madeireiros peruanos pode dar início a um conflito entre eles. "Esses índios usam de um território grande para viver, com longos deslocamentos, mudanças de aldeias e locais de caça. Se forem obrigados a viverem muito próximos um dos outros, há uma ameaça. Nosso trabalho é proteger a terra deles de invasão, e deixar para que eles se entendam da forma que sempre se entenderam, sem a interferência externa", conclui.
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