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Fronteira: PF tem 20 homens para vigiar 11 mil km

JB Online
01 de Jun de 2008

Principal força de segurança da União, a Polícia Federal tem menos de 20 homens para guarnecer uma linha que serpenteia rios e florestas em uma extensão de 11 mil km. A estrutura é mais precária ainda quando se trata da vigilância na fronteira amazônica com a vizinhança mais problemática, como o território dominado pelas Forças Armadas Colombianas (Farc), na fronteira com São Gabriel da Cachoeira (AM). Na região, há ainda a presença de 25 mil homens do Exército, que só podem ser mobilizados em caso de invasão externa, que não podem, pela lei, realizar ações de policiamento.

Os policiais designados para a vigilância e inspeção na última fronteira do Brasil enfrentam todo o tipo de dificuldades: isolamento, insalubridade, risco de doenças, instalações precárias, dificuldade de comunicação e contingente insuficiente para fazer frente aos dois problemas que mais têm ameaçado a soberania brasileira na fronteira amazônica: o tráfico de cocaína e a influência da guerrilha colombiana, duas atividades interligadas em função da proteção dada pelas Farc.

"A presença da Polícia Federal é simbólica. Falta efetivo e as condições de trabalho são ruins", diz o agente federal Francisco Carlos Sabino, diretor de Relações de Trabalho da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).

Em alguns locais, como a Base Anzol - o mais avançado posto, com efetivo médio de seis a oito homens, na margem do Rio Solimões ¿ o poço que deveria abastecer o consumo está contaminado com coliformes fecais, diz Sabino, que andou pela fronteira por dez dias e produziu um relatório encaminhado ao diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa.

O relatório também aborda deficiências em outros postos na fronteira com a Venezuela e Guiana (Bonfim e BV8), Guaíra (PR), atualmente desativado, e a Base Candiru, em Óbidos (PA) ¿ uma casa-balsa que flutua sobre o rio Amazonas. Lá, segundo o agente, "as fezes de morcego são o aroma do dia-a-dia", com evidentes riscos de histoplasmose.

O problema não se resume às precárias condições de trabalho dos agentes federais deslocados de outros centros para dar cobertura à chamada operação Cobra, uma ação permanente das polícias colombiana e brasileira na faixa de fronteira. As duas principais bases da PF na região, a Mello Franco e a Iauretê, ambas no Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira (AM), estão há mais de um ano desativadas.

Uma terceira, a Garatéia, em Santo Antônio do Içá, no Rio Solimões, embora integre o organograma do órgão naquela faixa de fronteira, ainda não entrou em funcionamento por falta de móveis e equipamentos. As bases em atividade ¿ Cucui, Bitencourt, Ipiranga e São Gabriel da Cachoeira ¿ funcionam com a presença de dois homens. A exceção é a Base Anzol, a duas horas de barco de Tabatinga, pelo Rio Solimões, que conta com um efetivo entre seis e oito homens, insuficiente para a vigilância.

No ano passado, os policiais da Anzol apreenderam 1.800 quilos de cocaína durante inspeções de rotina em barcos que trafegam pelo rio Solimões e fazem parada obrigatória na balsa da base. O volume de cocaína, se for comparado com o que a polícia apreende em outros locais do país, é um recorde em quantidade, mas de resultado nulo quando o critério é prisão de traficantes. A droga é encontrada escondida em barcos que carregam, em média, 300 pessoas, mas o traficante nunca aparece.

"A droga que serve ao crime no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, sai dos centros de produção (Colômbia, Peru e Bolívia) e passa pela fronteira porque a fiscalização é frágil", diz Sabino.

O envolvimento de guerrilheiros das Farcs na segurança do cultivo e transporte de cocaína no lado colombiano virou também uma ameaça à soberania brasileira em decorrência do vazio institucional na região. Não há notícias recentes sobre a presença de guerrilheiros em território nacional, mas as incursões das Farc em aldeias indígenas em São Gabriel da Cachoeira é segredo de polichinelo.

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