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Fraude de até 40 bilhões de euros abala mercado de carbono

OESP, Vida, p. A16
31 de Ago de 2010

Fraude de até 40 bilhões de euros abala mercado de carbono

Andrei Netto Correspondente / Paris

Dezenove indústrias chinesas dedicadas à destruição de HFC23, um gás de alto efeito estufa, estão sob investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) por suspeitas de terem fraudado o mercado de carbono.
A suposta irregularidade pode reduzir as transações realizadas no mecanismo entre 30 bilhões a 40 bilhões de euros até o fim do ano. O golpe levava empresas - grande parte delas, ocidentais - a comprarem créditos das companhias chinesas sem que houvesse a equivalente redução das emissões de gases estufa, causadores do aquecimento global.
A denúncia é o maior indício de fraudes no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um dos pilares do Protocolo de Kyoto e da política de combate às mudanças climáticas que a ONU tenta implantar.
As primeiras revelações sobre o esquema foram feitas por organizações não governamentais há cerca de seis meses. Uma investigação foi aberta pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). Mas o caso ganhou impulso nas últimas semanas em razão das estimativas crescentes sobre o impacto financeiro que a suposta fraude estaria causando no mercado de carbono.
Esquema. Segundo o jornal Le Monde, ao menos seis empresas tiveram seus créditos de carbono proibidos de serem vendidos no mercado enquanto a investigação segue. O esquema teria sido montado em torno da suposta superprodução de gás HCF23, um derivado da produção de outro gás, o HCF22, usado na indústria de refrigeração. O HCF23 é 11 mil vez mais perigoso que o CO2 para a atmosfera.
Graças a uma supervisão insuficiente dos fiscais do MDL, empresas chinesas - e, estima-se, indianas - teriam produzido deliberadamente HCF23 para, então, destruí-lo, obtendo créditos de carbono, vendidos no mercado a empresas interessadas em compensar seu grau de poluição.
Por causa da investigação, só em 2010 o número de créditos à venda do mercado de carbono deve cair em até 40 bilhões de euros. Até 2012, a suspensão do comércio de créditos de HCF23 poderia custar até 150 bilhões de euros - de um universo de 900 bilhões n de euros negociados no mercado -, segundo cálculos da consultoria francesa Orbeo. "As provas são muito fortes", afirma Mark Roberts, membro da ONG britânica Agência de Investigação Ambiental. "É o maior escândalo da história do MDL e causa vergonha aos esforços internacionais pela luta contra as mudanças climáticas."

OESP, 31/08/2010, Vida, p. A16

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100831/not_imp602751,0.php

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