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Franca retoma debate sobre os biocombustiveis

OESP, Economia, p.B7
24 de Ago de 2004

França retoma debate sobre os biocombustíveis
Governo se divide entre a alta do petróleo e a receita obtida com o imposto sobre a gasolina
Gilles Lapouge
Correspondente
PARIS - Os franceses souberam há alguns dias que o Brasil é o maior produtor mundial de etanol - 122 milhões de hectolitros, em 2002. Foi um efeito direto da alta do preço do petróleo no mundo. E o exemplo brasileiro foi citado para encorajar a França a aliviar o efeito do petróleo na economia, e a lançar-se na produção de combustíveis naturais: etanol, éter, óleos vegetais.
Mas a França sempre negligenciou esse tipo de energia. Por quê? Inércia, falta de vontade política. E, principalmente, porque o Estado cobra altos impostos sobre a gasolina, que é uma das vacas leiteiras do orçamento francês. Como o custo dos combustíveis naturais é grande, não se pode cobrar deles impostos tão altos como os do petróleo. Eis porque nunca se fez nada para encorajar novas energias. Principalmente porque, até aqui, os preços do petróleo eram muito baixos e inferiores ao custo de fabricação dos combustíveis naturais.
Hoje, a alta do petróleo dá nova chance aos biocombustíveis. Estima-se que a cotação atual do petróleo (US$ 45 a US$ 48) é quase equivalente à do etanol ou do éter de óleo vegetal.
Outra circunstância deveria favorecer a constituição de uma forte rede de combustíveis naturais. A França é de longe a maior potência agrícola da Europa. E essa agricultura está em crise, levando-se em conta especialmente a resistência de países como o Brasil contra os subsídios aos agricultores europeus. O desenvolvimento de produtos agrícolas destinados a combustíveis apresentaria, assim, muitas vantagens.
Está claro que, neste debate, os ministérios da Agricultura e das Finanças defendem pontos de vista radicalmente contrários: Finanças é contra por acreditar que perderia a receita obtida com a gasolina. Para a Agricultura, só há vantagens.
Mas ninguém acredita que o problema do petróleo seja superado com os combustíveis naturais. Calcula-se que, para substituir todo o petróleo do mundo, seria preciso cultivar três vezes a superfície agrícola do planeta.
E, em um mundo onde os famintos se multiplicam, é natural que as terras cultiváveis sejam destinadas prioritariamente às culturas de subsistência.
Por isso, para os especialistas, os biocombustíveis devem ser vistos como um complemento. Os mais otimistas estimam que os vegetais podem suprir, no máximo, 10% das necessidades em combustíveis. E, até agora, estamos longe desse número.

OESP, 24/08/2004, p. B7

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