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Frades vivem rotina de ameaças na Amazônia

O Globo, O País, p. 16
10 de Jun de 2007

Frades vivem rotina de ameaças na Amazônia
Para MST, religiosos franceses representam ameaça à soberania nacional, mas têm a confiança dos agricultores

Fellipe Awi

O agricultor Jurandir Silva não entendeu quando lhe explicaram que a chegada de estrangeiros na Amazônia era uma ameaça ao Brasil. Os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Pará estavam falando sobre a internacionalização da floresta, mas na sua cabeça só vinha a imagem dos padres franceses Henri des Roziers e Jean Raguènés. Como eles seriam uma ameaça se "só se ouve história boa" sobre eles no seu acampamento?

"Esses padres são quem a gente tem para confiar"
Além de ser lógica, a confusão de Jurandir expõe o sentimento de gratidão do povo mais carente da Amazônia com os religiosos que chegaram de longe e, em diversas situações, assumiram o papel do Estado brasileiro em seu cotidiano. Ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT), eles abandonaram uma vida bem mais previsível e confortável fora do Brasil para arriscá-la na defesa da Floresta Amazônica e de quem nela vive. Por uma trágica razão, a missionária americana Dorothy Stang tornouse apenas o exemplo mais conhecido.

Esses padres são quem a gente tem para contar. Eles não têm preguiça de trabalhar - resume Jurandir.

Os dois heróis do agricultor de Tucumã se consideram também cidadãos da Amazônia, embora não tenham perdido ainda o sotaque francês. Frei Henri já está no Brasil há 29 anos, 16 apenas na região. Estava de malas prontas para a Guatemala, nos anos 70, mas as conversas com os freis brasileiros Tito e Beto, em exílio na França, aguçaram sua curiosidade de conhecer aquele país continental que sofria os horrores de uma ditadura. Depois de passar um tempo no Bico do Papagaio, no norte de Tocantins, chegou ao Sul do Pará e hoje tem a cidade de Xinguara como base.

- Pedi aos meus superiores para trabalhar na Amazônia porque via o abandono da região em todos os sentidos e, principalmente, para denunciar a impunidade que reina contra os trabalhadores rurais - afirma o frei, de 77 anos.

Frei é acompanhado de seguranças 24 horas por dia
Por causa desse trabalho, que já o levou a enfrentar os maiores fazendeiros da região, frei Henri contabiliza sete ameaças de morte diretas, sem considerar os bilhetes ou as que chama de "brincadeiras". Já teve de se esconder um tempo em São Paulo e Belo Horizonte, foi pressionado pelo sindicato dos fazendeiros a deixar o Pará e, pela segunda vez na vida, passou a andar com segurança 24 horas cedida pelo governo do estado.

Aqui a morte faz parte do dia-a-dia das pessoas, mas não sei por que nunca senti medo.

Sempre acho que não vai acontecer nada, embora eu tenha achado o mesmo sobre a Irmã Dorothy - diz.

O Globo, 10/06/2007, O País, p. 16

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