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Fórum Social só reúne elite das ONGs

O Globo, Economia, p. 25
09 de Jan de 2004

Fórum Social só reúne elite das ONGs

Luciana Rodrigues

Os participantes do Fórum Social Mundial (FSM) representam apenas a elite da sociedade civil organizada e têm uma grande desconfiança em relação às instituições governamentais e multilaterais. Essas são as principais conclusões de uma pesquisa feita pelo Ibase, sob coordenação da Secretaria Internacional do Fórum, com os participantes da edição do ano passado em Porto Alegre.

Com base nos dados, o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor do Ibase, afirma que o grande desafio do FSM é incluir os movimentos populares. A pesquisa mostrou que 9,7% dos participantes tinham mestrado ou doutorado, 27,5% curso superior completo e 36,2%, superior incompleto.

- São quase 75% com, pelo menos, o superior incompleto. É claro que isso não corresponde ao que encontramos na sociedade. Temos aqui um problema evidente de poder e de falta de participação popular. O fórum reúne apenas a elite das organizações sociais - diz.

Sociólogo defende a inclusão de "segmentos sem voz"

O sociólogo explica que, devido às diferenças culturais entre os participantes, não era possível, do ponto de vista metodológico, comparar a renda ou a posse de bens dos participantes. Por isso, o grau de instrução é o indicador que melhor mostra o perfil socioeconômico dos participantes.

Ele acredita que a realização do Fórum de 2004 na Índia pode levar à inclusão de um maior número de movimentos populares, uma vez que o país asiático tem tradição nessa área.

- Precisamos incorporar os segmentos da sociedade que têm pouca ou nenhuma voz. É importante que a elite das organizações sociais se mobilize, mas não pode ser só ela.

Como segmentos "sem voz" Grzybowski cita setores populares das grandes cidades, indígenas e camponeses.

Também foi surpresa na pesquisa o distanciamento entre sociedade civil e as instâncias do Estado. Entre os presentes no FSM 2003, 45% afirmaram desconfiar total ou parcialmente do Executivo. A desconfiança do Legislativo alcança 54% e do Judiciário, 58%.

Os participantes também são céticos em relação aos organismos multilaterais: 88% desconfiam do FMI, 86,4%, do Banco Mundial e 84%, da Organização Mundial do Comércio. Em relação às Nações Unidas, a desconfiança chega a 57,8%.

- Só há confiança nas organizações da própria sociedade civil. - diz Grzybowski, lembrando que 58,1% confiam total ou parcialmente nas ONGs e 73,1% nos movimentos sociais - Há um desencontro entre as instituições governamentais e o exercício da cidadania.

Os participantes do Fórum, porém, acreditam que a democratização dos governos é um caminho para "a construção de um outro mundo" (o lema do FSM é "outro mundo é possível"). Essa resposta recebeu a concordância de 79%. Para 94%, "a construção de um outro mundo" deve vir pela mobilização da sociedade civil.

Como era de se esperar, a maioria dos entrevistados era brasileira (85%). Os jovens formavam o principal grupo etário: 37,7% tinham entre 14 e 24 anos e 25%, entre 25 e 34 anos. E 62% dos participantes não eram filiados a partidos políticos.

O Globo, 09/01/2004, Economia, p. 25

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