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Força-tarefa liberta 61 trabalhadores em condição degradante

FSP, Brasil, p. A13
28 de Fev de 2008

Força-tarefa liberta 61 trabalhadores em condição degradante
Grupo foi encontrado em usina de Alagoas que pertence a João Lyra (PTB), candidato derrotado ao governo do Estado
Fiscais dizem haver, entre as irregularidades, jornadas longas de trabalho, falta de água potável e alojamentos em condições insalubres

Thiago Reis
Sílvia Freire
Da agência Folha

Força-tarefa formada pelo Ministério Público do Trabalho e pelo grupo móvel do Ministério do Trabalho libertou 61 trabalhadores em condições degradantes de uma das propriedades de João Lyra (PTB), um dos maiores usineiros do país e candidato derrotado em 2006 ao governo de Alagoas .
A usina de cana Laginha, em União dos Palmares (AL), fica perto de onde foi formado o Quilombo dos Palmares -símbolo de resistência à escravidão. Os fiscais do ministério disseram ter encontrado várias irregularidades durante a operação, ocorrida na última sexta.
Segundo eles, além do expediente exaustivo, os trabalhadores não recebiam hora-extra e viviam em alojamentos em condições insalubres. Os cortadores de cana que não viviam nos alojamentos da usina não tinham equipamentos de segurança -ou, quando tinham, eram velhos e inadequados.
Os fiscais afirmaram que os quartos não possuíam janelas, deixando o ambiente com temperatura acima de 40C.
Além disso, disseram que a empresa não fornecia água potável. "A água fornecida aos cortadores de cana era armazenada e manuseada sem higiene. Tenho certeza de que o dono da usina não tomaria água daquele local", afirmou Dercides da Silva, auditor do Trabalho que participou da operação.
Os trabalhadores libertados disseram aos fiscais que o local "parecia uma cadeia".
Segundo o Ministério do Trabalho, esta é a primeira vez que há libertação de trabalhadores em Alagoas desde a criação do grupo móvel, em 1995.
Em 2007, mais da metade das libertações de trabalhadores em condições degradantes no Brasil ocorreu em usinas de cana-de-açúcar. Foram 3.117 pessoas resgatadas no setor.
O procurador do Trabalho Rodrigo Alencar disse que foi protocolada na Justiça uma ação cautelar pedindo a interdição da usina até que sejam atendidas as normas de saúde e segurança. Afirmou também que será proposta ação civil pública por dano moral coletivo contra o proprietário.
O ex-senador e ex-deputado federal declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 236 milhões -um dos maiores patrimônios entre os políticos que disputaram cargos naquele ano.

Empresa diz que acatará recomendação

Da agência Folha

O diretor de comunicação do grupo João Lyra, Gabriel Mousinho, disse que não tem conhecimento do resgate de 61 trabalhadores na usina de Laginha. "Não tem nada disso de libertação, não", falou. "Houve só uma visita."
"Mas a unidade está disposta a atender todas as recomendações para melhorar, tudo em favor do trabalhador."
Segundo Mousinho, as irregularidades apontadas pelos fiscais não correspondem à realidade. "A usina de Laginha não tem nenhum alojamento, por exemplo. Não existe. O pessoal mora na região. Sai de casa, leva a alimentação e depois volta."
Ele disse que "todo trabalhador recebe equipamento". "Banheiros também existem. Só não sei se estão dentro das exigências do ministério."

FSP, 28/02/2008, Brasil, p. A13

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