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A força de Marina Silva

OESP, Notas e Informações, p. A3
07 de Set de 2009

A força de Marina Silva

Seria um exagero dizer que a muito provável candidatura da senadora Marina Silva à Presidência da República significará o enterro da candidatura Dilma Rousseff. Mas esse novo fato político já parece ser o mais importante, desde que a corrida sucessória presidencial foi precipitada pelo presidente Lula, ao jogar toda sua enorme popularidade no lançamento da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil à sua sucessão. Caberia então afirmar que a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente, desfiliada do Partido dos Trabalhadores (PT) e recém-filiada ao Partido Verde (PV), representa, no mínimo, uma pedra no sapato da candidata ungida, justamente por ter condições de arregimentar e mobilizar em seu favor muitas forças que se têm acoplado à trajetória do Partido dos Trabalhadores e seu principal líder há três décadas - e representa um dos mais evidentes sintomas da desagregação político-ideológica do PT, desencadeada, especialmente, a partir da operação de "salvamento" político do presidente do Senado, José Sarney, comandado pelo Planalto.

A candidatura Marina Silva tem condições de enfraquecer o PT em um de seus redutos mais tradicionais, que é o da militância católica ligada às Comunidades Eclesiais de Base - as CEBs - as quais sempre esteve profundamente ligada e pelas quais continua sendo muito prestigiada, apesar de, hoje, fazer parte da denominação religiosa Assembleia de Deus. Ressalte-se, desde já, que nestes e em outros setores que integraram, nos primórdios, o núcleo original de fundação do Partido dos Trabalhadores a ética na política sempre foi um dos traços essenciais - razão por que a senadora Marina representa, para velhos militantes petistas, uma via de retorno a convicções morais desprezadas na trajetória do partido rumo à manutenção do poder a qualquer custo.

Por outro lado, Marina Silva é capaz de juntar valores especialmente apreciados tanto pela sociedade brasileira quanto pela opinião pública externa, do que boa amostra foram as referências, a seu respeito, contidas em matéria de destaque do jornal norte-americano The New York Times, do dia 29 de agosto. Em reportagem intitulada Uma criança da Amazônia que mexeu com a política de um país, o jornal traça o perfil da parlamentar do Acre e diz que sua candidatura "abala" o atual cenário eleitoral brasileiro. O texto conta a história "de uma mulher humilde que superou a pobreza extrema e a doença para se tornar uma das maiores forças da política brasileira". Aborda a sua infância sofrida, a perda da mãe, a hepatite, as doenças da floresta, a chegada à faculdade em Rio Branco, as lutas ao lado de Chico Mendes e suas conquistas como ministra do Meio Ambiente e senadora, considerando-a "um ícone do movimento ambientalista".

Se no que diz respeito à valorização da capacidade de superação das próprias condições sociais a trajetória de Marina Silva se equipara - quando não supera, pelo empenho no esforço do aprendizado - a do presidente Lula, sua condição de mulher, destemida lutadora por seus ideais e até sua cor de pele miscigenada, tão própria da identidade étnica nacional, lhe dão peso favorável na comparação com outra candidatura que tenha na condição feminina um de seus atributos. Por sobre essas comparações de trajetórias e perfis há, sem dúvida, um discurso crítico em relação à orientação política do governo Lula, na área do meio ambiente. Um dia após oficializar a sua entrada no PV, Marina Silva criticou, por exemplo, a MP 458 que, segundo ela, a pretexto de regularizar a situação fundiária na Amazônia, aumenta muito o risco de desmatamento na região. Também criticou as medidas que retiraram a proteção ambiental de grutas e cavernas, ameaçando, assim, o patrimônio espeleológico do País.

Como não poderia deixar de ser, ao entrar para o PV a senadora acreana já atraiu muitos ex-companheiros do governo Lula, especialmente do setor do meio ambiente. Que o atualíssimo tema ambiental venha a ter um destaque especial na próxima campanha presidencial, graças a sua candidatura, não há a menor dúvida. É possível, no entanto, que por suas ligações com certos grupos e partidos o PT oficial venha a sentir outros tipos de cobrança por parte de uma candidatura Marina Silva - e aqui nos referimos ao campo da ética na política.

OESP, 07/09/2009, Notas e Informações, p. A3

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