VOLTAR

Fonteles pede ao STJ que caso Dorothy seja federalizado

FSP, Brasil, p. A13
05 de Mar de 2005

Fonteles pede ao STJ que caso Dorothy seja federalizado
Se pedido de procurador-geral for acolhido, assassinato de freira em Anapu será julgado na Justiça Federal

Silvana da Freitas
Da sucursal de Brasília

O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, pediu ontem ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que transfira para a esfera federal a responsabilidade pelas investigações do assassinato da freira Dorothy Stang, ocorrido em 12 de fevereiro, em Anapu (PA).
A Polícia Federal já está conduzindo um inquérito, e a polícia estadual, outro, mas o crime é considerado elucidado. Se o pedido de Fonteles for acolhido, o futuro processo será julgado pela Justiça Federal, não pela Justiça estadual.
Caberá à 3ª Turma do STJ, composta por dez ministros, decidir se aprova ou não o pedido de federalização. O ministro Arnaldo Esteves será o relator. Não há prazo para o julgamento. Enquanto isso, as investigações deverão prosseguir, segundo Fonteles.
Omissão
Fonteles apontou dois motivos básicos: considerou o crime muito grave e disse que o Brasil pode responder perante tribunais internacionais por violação de tratados de direitos humanos. Ele afirmou ainda que houve omissão do Estado do Pará na proteção da freira e colocou em dúvida a isenção da polícia local.
"Os fatos mostram um estado de inércia no Pará, não só em relação a esse episódio, mas em relação a tudo o que vem ocorrendo ao longo do tempo", disse ontem. E poupou o governo federal: "O Estado é que tem a responsabilidade primeira [pela segurança das pessoas], não a União".
No pedido ao STJ, ele argumentou: "É notório que a federação deslocou contingente real do Exército brasileiro, delegados e agentes da Polícia Federal para o combate diuturno e incessante ao quadro de criminalidade constante e crescente, que na área as autoridades estaduais não lograram debelar".
Sobre a falta de isenção da polícia estadual, o procurador-geral desqualificou o depoimento que Rayfran das Neves Sales, apontado como o pistoleiro contratado para o assassinato, prestou à polícia local, dizendo que o "verdadeiro" tinha sido tomado pela PF.
No primeiro, ele incriminara o petista Francisco de Assis dos Santos Souza, conhecido como Chiquinho do PT, que preside o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu. No outro, não.
O ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) elogiou a iniciativa de Fonteles e disse que o governo evitou questionar o trabalho da polícia local.
"Procurei desde o início não debater isso para estabelecer uma cooperação com o governo estadual. Agora que o inquérito terminou é a hora. O crime está elucidado. Isso foi importante para evitar qualquer competição que favorecesse a impunidade", disse.
O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) vinha dizendo que não achava necessário o deslocamento das investigações. Ontem, ele não comentou o tema.
A possibilidade de federalizar investigações de crimes contra direitos humanos era uma antiga reivindicação de entidades civis que sempre questionaram a isenção da polícia e da Justiça dos Estados. Ela foi criada pela emenda constitucional da reforma do Judiciário, de dezembro de 2004. Esse foi o primeiro pedido.

FSP, 05/03/2005, Brasil, p. A13

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.