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Fome aumentou no mundo e diminuiu no Brasil

OESP, Nacional, p. A6
26 de Nov de 2003

Fome aumentou no mundo e diminuiu no Brasil
Relatório da FAO compara início e final dos anos 90 e deixa bem o governo FHC

Gabriel Manzano Filho

Depois de recuar na primeira metade dos anos 90, a fome voltou a crescer no planeta: a partir de 1997, vem aumentando 4,5 milhões por ano o número de pessoas que ingerem muito menos calorias que o necessário, ampliando um exército que já beira os 850 milhões. Só 19 países saíram-se bem nessa batalha - e o Brasil está entre eles, mas o governo Lula e o programa Fome Zero nada têm a ver com os novos índices, pois a comparação é feita entre o início da década (1990-92) e seu final (1999-2001), que coincidiu com o segundo governo Fernando Henrique.
Esses números são do relatório anual da FAO (a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulgado ontem. O documento, "Estado da Insegurança Alimentar no Mundo - 2003", adverte que as campanhas internacionais para alimentar as populações pobres vêm fracassando nos últimos seis anos e "são cada vez mais remotas" as chances de atingir, em 2015, a meta da ONU de reduzir pela metade o total mundial de subnutridos. Em números absolutos, diz o estudo que até 97 a população com fome havia diminuído em 19 milhões de pessoas, mas desse ano até 2001 ela cresceu em 18 milhões.
O estudo menciona programas bem-sucedidos em 4 países - Brasil, `Panamá, Quênia e Vietnã - e conclama todos os países a adotar e apoiar o Programa Mundial contra a Fome, recentemente proposto pela FAO. O Brasil, segundo o documento, conseguiu reduzir de 12% para 9% o universo de famintos ao longo da década - de 18,6 milhões para 15,6 milhões de brasileiros. A redução aconteceu no período em que a chamada "rede de proteção social" da gestão tucana levava adiante programas como Bolsa-Escola, Comunidade Solidária e de vacinação e assistência à saúde, que reduziram a mortalidade infantil e aumentaram a presença de crianças em escolas. Embora criado bem depois do estudo, o Fome Zero é citado, também, como um dos "sinais encorajadores" na luta contra a sub-nutrição no mundo.
Brasil, Vietnã e Tunísia são mencionados, com destaque, no capítulo que trata de iniciativas bem-sucedidas no combate à subnutrição. O Fome Zero é descrito em suas etapas e formas de ação e elogiado por atacar "as causas básicas da fome: pobreza, desemprego, falta de terras". Diz o estudo que "no final de maio, dezenas de milhares de famílias em 181 cidades afetadas (no Brasil) pela seca".
O relatório traz uma análise detalhada onde o norte da África, o sul do Saara e o Oriente Médio aparecem como lugares onde a situação piorou muito. Na outra ponta, Ásia, América Latina e Caribe tiveram progressos elogiáveis, puxados pela China, que conseguiu a façanha de tirar 74 milhões de pessoas da fome entre 1995 e 2000. O pior índice é do Congo, que atravessou os últimos oito anos mergulhado em guerra e desordem civil e viu seu número de subnutridos chegar a 36,7 milhões de pessoas. Nigéria e Gana apresentaram retrocessos consideráveis.
Vontade - "Dito com toda a clareza, o problema não é tanto de falta de comida, quanto de falta de vontade política", diz o relatório. Para o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, no ritmo atual, a meta da ONU será atingida com um século de atraso, lá por 2150. "Estamos aprendendo mais, a cada dia, sobre o, que funciona nessa batalha", acrescenta Diouf. Rápido crescimento, especialmente na área agrícola, e baixo crescimento demográfico estão entre os fatores favoráveis, nos países onde os índices da fome caíram. O relatório assinala ainda que "o comércio internacional pode ter grande impacto" na redução da fome e da pobreza e os países mais voltados para o comércio "tendem a conseguir maiores médias de crescimento econômico".

OESP, 26/11/2003, Nacional, p. A6

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