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Fome ainda atinge 11,2 milhões de pessoas no País

OESP, Nacional, p. A12
27 de Nov de 2010

Fome ainda atinge 11,2 milhões de pessoas no País

Felipe Werneck

Pelo menos 11,2 milhões de brasileiros passavam fome ou estavam sob risco iminente de não poder comer por falta de dinheiro, aponta o IBGE no estudo Segurança Alimentar, com dados de 2009. Na primeira edição da pesquisa, em 2004, o número era de 14,9 milhões. São 3,7 milhões de pessoas a menos em "situação de insegurança alimentar grave", uma queda de 24,8% em cinco anos. No período, a população do País aumentou 5,5%.
O estudo divulgado ontem foi feito em convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Para o IBGE, o impacto do Bolsa-Família foi o principal fator para a redução do número de brasileiros que passam fome. O aumento do salário mínimo seria o segundo motivo.
"A queda foi muito importante, mas ainda há 11,2 milhões de pessoas que precisam ser vistas e cuidadas", diz a gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, Maria Lucia Vieira. "O objetivo é eliminar essa preocupação."
O secretário executivo do ministério, Rômulo Paes de Sousa, avalia que "o ganho foi excepcional para um período tão curto". Segundo ele, o objetivo do governo é acabar com a fome no País, mas a "supressão completa desse temor leva tempo". Para Sousa, a permanência de mais de 11 milhões de pessoas na situação grave deve ser relativizada. "A questão da insegurança alimentar aparece inclusive no país mais rico do mundo, os Estados Unidos", afirma. "Quando comparamos o Brasil com países que têm economia semelhante e investimento também em política social, como o México, a nossa situação é muito mais favorável", argumenta.
Segundo a pesquisa, apenas 65,8% dos brasileiros estavam em condição de segurança alimentar em 2009, ante 60,1% em 2004. Ou seja, no ano passado mais de um terço da população (34,2%) estava em situação de insegurança. São pessoas que apresentavam alguma restrição alimentar ou, pelo menos, preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição por falta de dinheiro para comprar comida. Esse grupo se dividia em três categorias: 20,9% com insegurança leve, 7,4% com moderada e 5,8% na situação grave (11,2 milhões de pessoas). Do total na última classificação, 1 milhão eram crianças de 0 a 4 anos. Em 2004, a situação grave atingia 8,2% da população.
O representante do ministério citou dados do México para afirmar que, lá, 62% encontram-se em situação de insegurança alimentar (leve, moderada e grave). "Nos EUA, a insegurança alimentar moderada e grave era de 5,7% em 2008, antes da crise", afirma Rômulo. "A informação que temos é que a situação piorou em função da crise, por causa do aumento do desemprego."
O IBGE aponta forte associação entre condição alimentar e rendimento das famílias: 58,3% dos domicílios do País na situação de insegurança moderada ou grave tinham até meio salário mínimo per capita ou nenhum rendimento. O estudo também mostra que os porcentuais de insegurança alimentar são mais altos nos domicílios com maior densidade por dormitório.
A gerente da pesquisa ressalta que a redução ocorreu principalmente nos domicílios onde havia crianças, na região Nordeste e na área rural. "O foco do Bolsa Família são domicílios com limitação de renda e com crianças", explica ela. "Se o programa social estiver sendo encaminhado adequadamente, o impacto deve ter sido até mais importante do que o do salário mínimo", diz Maria Lucia. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,fome-ainda-atinge-112-milhoes-…

Insegurança alimentar caiu mais no Nordeste e nas áreas rurais
Nos Estados nordestinos, porcentual de brasileiros que correm risco de ficar sem comer caiu de 13,2% para 9,3%

A maior queda do número de pessoas em situação de insegurança alimentar ocorreu no Nordeste, principalmente na área rural, mas a região ainda era em 2009 a que mais concentrava brasileiros com fome. O porcentual de domicílios nordestinos na categoria de insegurança alimentar grave caiu de 13,2% em 2004 para 9,3% em 2009.
O estudo mostra que, apesar de concentrar 28,2% da população, o Nordeste reunia 41,7% dos brasileiros com insegurança alimentar no ano passado. Todos os Estados do Nordeste e do Norte apresentaram proporções de segurança alimentar inferiores à média nacional. A pior situação do País foi verificada no Maranhão. Lá, havia alimentação saudável e em quantidade suficiente assegurada em apenas 35,4% dos domicílios em 2009. Ou seja: 64,6% estavam com insegurança alimentar, sendo 14,8% na categoria grave. O segundo pior foi o Piauí.
Os três Estados do Sul são os que têm a maior segurança alimentar. Ou seja: é onde a população menos se preocupa com a falta de dinheiro para comer. A média na região para a situação grave foi de 2,1% dos domicílios em 2009, ante 3,7% em 2004.
"Como há correlação grande entre pobreza e insegurança alimentar, sobretudo grave, certamente podemos atribuir ao Bolsa Família uma grande ajuda nessa questão. Justamente as populações mais pobres, no Nordeste e no Norte, pretos e pardos, aqueles em condições mais desfavoráveis historicamente, apresentaram os melhores resultados", disse o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Rômulo Paes de Sousa.
Segundo ele, o governo está preocupado em garantir não só alimentação para todos, mas alimentos de qualidade. "Em 5 anos, as pessoas não só tiveram uma vivência positiva de acesso ao alimento, mas a memória de períodos mais adversos começa a desaparecer, porque têm renda mais estável."
A pesquisa avalia a percepção. "Estamos ao mesmo tempo preocupados com a desnutrição, que caiu profundamente, mas também com a obesidade." O estudo mostra que o porcentual de domicílios com fogão, geladeira e televisão, eletrodomésticos mais difundidos, aumentou com mais intensidade nos domicílios inseguros.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101127/not_imp646019,0.php

Farinha ajuda a disfarçar a falta de feijão com arroz
Nas grandes cidades, famílias saem às ruas para pedir esmolas e comida e muitos ainda passam fome

Angela Lacerda

Mochilas, panos, papelão, sacolas, pedaços de pão e banana estão espalhados pela calçada no Cais de Santa Rita, Bairro de São José, no Recife. Sob a marquise, famílias ficam expostas a uma espécie de "vitrine" à espera de cestas básicas, roupas ou qualquer doação de quem passa. No Natal a solidariedade é disputada.
"Chegamos dia 20 para pegar logo um lugar", diz Maria da Penha Nascimento, 71 anos, sete filhos, 19 netos. "A gente só volta para casa no dia 30 de dezembro", diz a moradora da favela do Coque, na Ilha Joana Bezerra, e não reclama do desconforto da rua. Em casa, diz, não é muito diferente.
Ana Vera Cruz de Menezes, filha de Maria da Penha, está grávida de dois meses. Do quinto filho. Mora perto da mãe. Parou de estudar na quinta série, não trabalha e diz querer que os filhos estudem. Maria da Penha, ao lado, fica magoada. Ela tinha o mesmo sonho.
Até ontem, ainda esperavam desoladas porque não ganharam nada. "Nem uma cestinha básica". Cinco dos filhos de Maria da Penha moram com ela. Nenhum está empregado, a maioria pede na rua ou recolhe garrafas e latas para vender. O Bolsa Família que ela recebe - R$ 68,00 - não garante refeições para todos.
De manhã, todos comeram pão com café. Ao meio dia, o dinheiro recolhido nos semáforos permitiu que comprassem almoço pronto - arroz, feijão, macarrão e galinha -, que foi dividido por todos. "Deu para encher a barriga", diz Maria.
Maranhão. A babá Josiane Pereira Penha mora em uma palafita no bairro Alemanha, às margens do Rio Anil, na periferia de São Luís e nem sempre sabe se terá comida no final do dia. "Dou graças a Deus quando ainda tem algo para comer", disse a babá.
O salário de Josiane, de R$ 600 mensais, garante o sustento da família de oito pessoas - os pais e seis irmãos. Isso significa uma renda per capta de R$ 75 ao mês. Quase três vezes menos que o valor da cesta básica em São Luís - R$ 170,39. Com tão pouco, produtos como arroz, feijão e carne viram supérfluos. A farinha é o principal ingrediente da dieta da família. "Com farinha nós disfarçamos a fome", diz Josiane. O rio ao lado garante alguns peixes. / Colaborou Wilson Lima, de São Luís

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101127/not_imp646020,0.php

Situação de pretos e pardos é pior que a de brancos

Não é novidade que brasileiros pretos e pardos passam mais fome que os brancos, mas agora é possível mensurar essa diferença, graças ao IBGE. Dos 13,3 milhões de autodeclarados pretos, 19,2% estavam em situação de insegurança alimentar moderada ou grave em 2009. Dos 84,7 milhões de pardos, 18,3% encontravam-se na mesma condição. Já entre os 92,4 milhões de brancos, a proporção era de 7,5%. A situação melhorou em relação a 2004, quando os porcentuais eram de 28,1%, 27,6% e 11,7%, respectivamente.
Houve redução da insegurança alimentar em todos os níveis de escolaridade no período. Nordeste e Norte apresentaram porcentuais de moderada ou grave mais altos que as demais em qualquer nível de escolaridade.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101127/not_imp646018,0.php

OESP, 27/11/2010, Nacional, p. A12

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