VOLTAR

A floresta do amanhã

O Globo, Opinião, p. 13
Autor: RIAL, Sérgio; KEENAN, Joe
04 de Set de 2017

A floresta do amanhã
Teremos que ser ousados para incluir o capital natural amazônico em equação de ganha-ganha

Sergio Rial / Joe Keenan

Qual modelo de desenvolvimento queremos para a Amazônia? Não adianta fugir da pergunta. A exploração do mais importante bioma florestal do planeta está acontecendo agora. É a inexorável marcha do progresso - uma palavra que comporta as mais variadas definições, para o bem e para o mal.
O desafio é proporcional ao gigantismo do ecossistema. Mas traz oportunidade fantástica de construção social. Temos que colocar à mesma mesa os setores público e privado, ruralistas e ambientalistas, bancos e empreiteiras, índios e madeireiros. Somente juntos criaremos um novo paradigma de desenvolvimento e governança.
A discussão que interessa leva em conta não só o desenvolvimento econômico e social - tão necessários na região -, mas também um novo padrão de produção e consumo. Um modelo capaz de conciliar a conservação da natureza e o fortalecimento da cultura dos povos tradicionais com o uso dos recursos naturais de forma inteligente e em benefício de todos.
O que nos conduz a novos questionamentos: esse modelo existe? É possível explorar a riqueza da fauna e da flora amazônicos sem prejudicar a biodiversidade? Dá para aproveitar o potencial hidrelétrico, extrair recursos minerais, criar caminhos para a produção de grãos do Centro-Oeste, tudo isso favorecendo o bem-estar das populações e sem desequilibrar o delicado mecanismo de regulação global do clima, que depende da gigantesca movimentação de ar úmido da floresta?
A Amazônia sofreu muito enquanto era vista como fronteira a ser conquistada, e se justificava o extrativismo predatório pelo mito do vazio demográfico. Tampouco avançamos quando a chamamos de pulmão intocável do mundo, numa visão que condenaria parte do país à estagnação. Hoje, ainda oscilamos entre esses dois polos, em cenário que não beneficia ninguém.
Teremos que ser ousados para incluir o capital natural amazônico em uma equação de ganha-ganha. Inovação, pesquisa, ciência e tecnologia são temas de partida para a criação de novos modelos de negócios, dentro de uma agenda produtiva e responsável. Iniciaremos esse diálogo construtivo em um evento amanhã, não por acaso o Dia da Amazônia, no Museu do Amanhã.
Quando o debate vem de um banco, em seu papel de fiador e financiador dos grandes projetos de infraestrutura que e empolgam e preocupam a sociedade, aliado a uma organização global que tem a missão da conservação ambiental, o resultado é uma força agregadora que não pode ser desprezada.
Acreditamos que é viável implantar empreendimentos com impacto líquido positivo ao capital natural e à sociedade, antecipando soluções e planejando melhor a mitigação e a compensação pelos danos provocados. Não esperamos menos do que uma abordagem regional, integradora, respaldada por políticas e práticas para a gestão do uso da terra, e de respeito aos povos indígenas e às comunidades tradicionais.
Mais do que construir visões, pensaremos em ações pragmáticas e positivas que gerem valor compartilhado. O desenvolvimento só é aceitável se acompanhado pela gestão de recursos hídricos, de unidades de conservação e pelo uso sustentável da floresta. E só é verdadeiro se gera emprego, amplia a renda e a equidade social, com conversão de habitat zero, sem destruir ambientes e culturas. O amanhã da Amazônia é hoje, e o hoje precisa ser melhor do que ontem. Sim, é possível!

Sérgio Rial é presidente do Santander Brasil; Joe Keenan é vice-presidente da The Nature Conservancy para a América Latina

O Globo, 04/09/2017, Opinião, p. 13

https://oglobo.globo.com/opiniao/a-floresta-do-amanha-21776637

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.