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Flamarion responsabiliza governo

JB, Pais, p. A4
13 de Jan de 2004

Flamarion responsabiliza governo
Assassinato de índio, que teria sido causado por embriaguez, leva governador a fazer uso político do crime

BOA VISTA - O governador de Roraima, Flamarion Portela, pretende usar a morte de um índio, ocorrida no sábado, para responsabilizar o governo federal por um suposto acirramento na disputa na questão da demarcação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol.
O Ministério da Justiça anunciou na sexta-feira que manterá a homologação da reserva em área contínua, o que significa retirar todas as fazendas, vilas, cidades e não-índios do território. Contrário à proposta, Flamarion (afastado do PT) disse por meio de sua assessoria que usará a morte ''para mostrar ao governo federal que o clima entre os índios em Roraima chegou a um estágio que poderia ter sido evitado''.
- Se ao menos o governo federal houvesse apresentado soluções alternativas para os problemas que possam vir a ocorrer com a demarcação, talvez os índios estivessem mais calmos - disse o governador.
O crime aconteceu após um incidente envolvendo três integrantes da tribo dos macuxis, únicos que apoiaram os protestos dos fazendeiros contra a demarcação contínua da reserva. Os macuxis, segundo indianistas locais, estariam em adiantado processo de aculturação, justamente pelo estreito contato com os produtores rurais, que os usam como mão de obra na lavoura.
O delegado da Corregedoria Geral de Polícia do Estado de Roraima, Pedro Luís dos Santos, afirmou que o crime foi resultado de uma bebedeira entre índios. Segundo o delegado, o autor do crime, o índio Jadir Amaro da Silva disse que voltava em companhia dos índios José Conrado Lima, 40, e Francisco Antonino, de Pacaraima para a região da Maloca Mato Grosso, após terem bebido muita cachaça. No caminho, Silva disse ter sido agredido por Lima e Antonino com pauladas, revidando com facadas. Na briga, Lima morreu e Antonino foi encaminhado ao hospital em Boa Vista. Silva vai responder por homicídio em liberdade, segundo o delegado.
Apesar da declaração do delegado, Flamarion ão se deu por vencido. Segundo sua assessoria, ''a posição do governo de Roraima é transmitir o ocorrido ao governo federal e demonstrar a total preocupação com esse tipo de violência, que pode ganhar proporções maiores.''
Lideranças macuxis pretendem realizar marcha a Brasília para levar ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um abaixo-assinado, a fim de demonstrar que a maioria absoluta dos moradores do Estado é contrária à homologação.
Agência Folha

JB, 13/01/2004, p. A4

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