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Fim da poluição do Melchior

CB, Cidades, p. 28
24 de Set de 2005

Fim da poluição do Melchior

Leandro Bisa

Caesb conclui em um mês as obras para tratar o esgoto de 300 mil habitantes de Taguatinga, que hoje é despejado diretamente no leito do ribeirão. Duas reservas ambientais serão beneficiadas
A água do Ribeirão Melchior é turva e fede. A cada segundo, 1,2 mil litros de esgoto, produzidos pelos mais de 300 mil habitantes de Taguatinga, são despejados no córrego.
A cidade é a única do Distrito Federal que ainda não possui sistema de esgoto tratado. Mas essa realidade deve mudar em um mês. Faltam apenas 600 metros de tubulação para o emissário da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Melchior ser concluído.
É o primeiro passo para despoluição das águas e recuperação de duas reservas ambientas que o ribeirão corta, além de assegurar condições sanitárias necessárias à qualidade de vida da população.
A Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) promete inaugurar a obra completa, orçada em R$ 100 milhões, no próximo dia 27 de outubro, às 11h.
O dinheiro para construção é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Caixa Econômica Federal.
O emissário já atende os moradores de Samambaia e Ceilândia, desde dezembro do ano passado. Antes, o esgoto dessas cidades, estimado em 1,8 mil litros por segundo, também era despejado no córrego. Quando todo o sistema for concluído, cerca de um milhão de pessoas serão beneficiadas e o DF passará a ser a primeira unidade da federação, no Brasil, a ter 100% de esgoto tratado.
Segundo o presidente da Caesb, Fernando Leite, nenhuma cidade ou região da América Latina tem essa marca. Toda tubulação do emissário tem 15 quilômetros de extensão.
A população de Taguatinga já deveria ter esgoto tratado, porém, a obra ficou paralisada por um ano, justamente no trecho que vai atender a cidade. Um dos mais importantes sítios arqueológicos do país está localizado no local onde a tubulação passa. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fez uma série de exigências para que a Caesb pudesse prosseguir com o trabalho. O objetivo era preservar 90% do sítio, batizado por pesquisadores de DFPA 11. (Leia matéria ao lado).
O GDF atendeu os pedidos e a obra foi retomada há um mês. Uma das exigências do Iphan era que a tubulação fosse desviada, para longe do sítio. Os técnicos da Caesb acharam a solução inviável, uma vez que o emissário ficaria quatro quilômetros distante do ribeirão. "A tubulação deve ser a última tubulação do sistema, por isso tem que estar próxima ao córrego", explicou Fernando Leite. Em vez de fazer um emissário totalmente subterrâneo, a Caesb decidiu construir um trecho aéreo, erguido sob colunas, sobre o sítio arqueológico.
O ribeirão Melchior divide duas reservas ambientais. Na margem esquerda está o Parque Três Meninas e, do lado direito, a Área de Relevante Interesse Ambiental (Aria) JK. O córrego corre em um Vale, cercado por Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. "Esse vale é considerado o quintal dessas cidades. O interessante
é que ele não tem invasão nenhuma. O mal cheiro espantou os invasores.
A água está comprometida, mas a vegetação está intacta", afirmou Fernando Leite. Uma das exigências do Iphan é que a Caesb assine um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que toda a região se transforme em um parque.
A Caesb vai ter de construir uma cerca em torno do Três Meninas e da Aria JK, fazer a recuperação ambiental da região e executar um Plano de Manejo para que o parque seja aberto à população. O professor Paulo Salles, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), acredita que as águas do ribeirão, em breve, estarão limpas. "Todo o rio tem capacidade de se recuperar, naturalmente. A medida da Caesb, embora tardia, é muito importante", afirmou Salles.
O especialista destacou ainda a importância da obra em relação à saúde pública. Ele lembrou que inúmeras doenças são transmitidas pela água fétida. "Todo mundo sai ganhando. O esgoto humano gera muitas doenças. A maior parte da mortalidade infantil no planeta se deve à água contaminada",
lembrou o professor. O ribeirão Melchior deságua no Rio Descoberto, que, por sua vez, é afluente do Rio Corumbá. Esse conjunto córregos e rios integra a Bacia Hidrográfica do Descoberto, uma das mais importantes da Região Centro Oeste.

Riqueza de 9 mil anos

O sítio arqueológico encontrado próximo ao ribeirão Melchior prova a presença de seres humanos na região há, no mínimo, nove mil anos. São quatro sítios no total, dois pré-históricos e dois históricos, datados do final do século XIX e início do século XX. A arqueóloga Mariza Barbosa, do Instituto Goiano de Pré-história da Universidade Católica de Goiás (UCG), afirmou que o impacto da construção da Caesb na região será mínimo.
Mariza coordenou a equipe de 40 arqueólogos que, durante o ano em que a construção do emissário esteve paralisada, pesquisaram a região. "Encontramos cerca de 22 mil peças, provas de que o homem viveu ali", disse a arqueóloga. O gerente do patrimônio arqueológico e natural do Iphan, Rogério José Dias, afirmou que a Caesb cumpriu, até agora, todas as exigências do órgão. A próxima etapa é assinar o TAC. O documento prevê, após o cercamento do parque, a construção de um museu em seu interior. "Será uma casa de cultura. É promoverá uma educação patrimonial permanente", comentou Dias.
Para marcar a inauguração do emissário, a Caesb realizará, entre os dias 24 e 26 de outubro, o Seminário Internacional de Saneamento Básico, no hotel Lakes Side.
O evento tem objetivo de discutir temas de interesse nacional e internacional a respeito de saneamento básico, recursos hídricos, responsabilidade social e recuperação ambiental, entre outros assuntos. O evento é aberto ao público, mas só há 350 vagas (para mais informações, ligar para a Caesb: 33214-2182)

CB, 24/09/2005, Cidades, p. 28

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