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''Filhas'' transgênicas em debate

OESP, Vida, p. A16
22 de Mai de 2009

''Filhas'' transgênicas em debate
CTNBio vai definir se pedido de 2.ª geração de sementes deve ter rito simplificado ou não

Lígia Formenti

Uma nova polêmica começa a se formar na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Desta vez, a discussão é sobre a segunda geração de transgênicos, chamados piramidais. São sementes transgênicas "filhas" do cruzamento de duas variedades transgênicas. Quatro pedidos de consulta para avaliação dessas variedades foram feitos. O debate é como tal processo tem de ser realizado - em um rito simplificado ou no padrão tradicional. Dependendo do resultado, há a possibilidade de que novas batalhas judiciais envolvendo transgênicos sejam travadas.

Ontem, quando o assunto começaria ser discutido pela CTNBio, seus integrantes receberam carta do diretor de Conservação e Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Ferreira Souza, pedindo cautela e criticando a possibilidade de aprovação automática. Alertou que, em caso de efeitos inesperados, alguém teria de ser responsabilizado. "Acho que foi uma espécie de ameaça", avaliou o presidente da CTNBio, Walter Colli.

Desenvolvidas com base no cruzamento de variedades de transgênicos, as novas espécies "herdam" características: podem, por exemplo, ser ao mesmo tempo resistentes a determinado inseto e herbicida.

Um grupo da CTNBio argumenta que, se a nova espécie resulta do cruzamento de transgênicos aprovados, a liberação comercial deveria ser automática. Outro defende um rito mais rápido; e um terceiro, análise detalhada, como qualquer outro transgênico. "Eu acredito que esta última é a estratégia mais acertada", afirmou Souza. "Não sabemos se o cruzamento pode acarretar combinações que coloquem em risco a saúde do homem ou o meio ambiente."

O diretor argumenta que rito simplificado ou análise em bloco contrariam o princípio da Lei de Biossegurança, que determina que os processos sejam analisados um a um. Colli discorda. "Uma resolução da CTNBio abre espaço para análises mais simplificadas. Isso não significa menor cuidado. Apenas economia processual." A carta do diretor foi enviada à consultoria jurídica da comissão.

Ferreira Souza avalia que, de acordo com o desenrolar das próximas reuniões, há o risco de decisões da CTNBio serem alvo de novas ações judiciais. "Se as avaliações não forem transparentes, contrariarem a Lei de Biossegurança, não há dúvida de que decisões do colegiado ficarão vulneráveis." Ontem, três das quatro consultas de avaliação deveriam ser avaliadas: uma de algodão e duas de milho. O representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Leonardo Melgarejo, apresentou parecer contrário à avaliação em rito simplificado.

Comissão quer acelerar análises de produtos

Lígia Formenti

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem a liberação comercial de uma espécie transgênica de algodão desenvolvida pela empresa Monsanto. Batizado de Bollgard II, o algodão é resistente a insetos.

A comissão também aprovou uma resolução normativa com novas regras para apreciação de pedidos de pesquisa de transgênicos que já tenham sido avaliados em um mesmo local. O novo texto faz com que os processos de aprovação de pesquisas já avaliadas sejam mais rápidos.

"Não é raro nos depararmos com pesquisas de uma mesma semente, realizada em um mesmo local, terem de ser feitas várias vezes ou porque houve algum imprevisto ou porque é preciso analisar outro aspecto do processo", conta o presidente da comissão, Walter Colli. Ele dá como exemplo uma espécie transgênica de cana-de-açúcar que já teve mais de 40 pedidos de liberação planejada avaliados. "No processo simplificado, será possível realizar as análises em menos tempo", completou.

OESP, 22/05/2009, Vida, p. A16

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