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Filha de Apoena exige justica

CB, Brasil, p.14
13 de Out de 2004

Filha de Apoena exige justiça
Parentes do sertanista e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) José Apoena Soares de Meireles divergem sobre o motivo de seu assassinato, na noite de sábado em Porto Velho, pouco depois de usar o caixa eletrônico de uma agência bancária. O corpo de Apoena foi enterrado ontem no cemitério São Francisco Xavier (Caju, zona norte do Rio). A filha do sertanista, Tainá Meirelles, de 28 anos, afirmou que Apoena entregou todas as [cinco] armas que tinha há dois meses para a campanha do desarmamento. Segundo ela, a família desconfia da versão de que Apoena estivesse sendo perseguido ou ameaçado de morte.
Um homem que estaria sendo ameaçado de morte não entregaria suas armas. Eu quero que os fatos sejam apurados, que tenha Justiça nesse país, tenha sido um latrocínio ou crime mandado. Mas ele não falou que estava sendo ameaçado de morte, afirmou ela, muito trêmula, momentos antes do sepultamento.
Já a irmã mais velha de Apoena, Lídice Meirelles, 59, disse que ele sofria ameaças e que acredita em crime encomendado. Para ela, o crime foi motivado pelo trabalho que Apoena desenvolvia à frente da força-tarefa encarregada de impedir a continuidade dos conflitos na reserva Roosevelt (RO), onde, em abril, 29 garimpeiros foram assassinados por índios cintas-largas. Existia uma situação de risco muito grande. Ele sofria ameaças. Você não precisa conhecer a situação a fundo para saber do risco, disse.
Único representante do governo federal no enterro, o presidente da Funai, Mércio Pereira dos Santos, disse que o sertanista não deu indícios de que estava sendo perseguido quando conversaram por telefone, um dia antes do assassinato. Cerca de cem pessoas acompanharam o enterro de Apoena, que tinha 55 anos.
Durante uma cerimônia ecumênica, amigos de infância, admiradores e parentes falaram sobre o sertanista. O índio xavante Sereburã, 86, homenageou o amigo com uma fala em sua língua. Duas bandeiras, uma do Flamengo e outra da Funai, além de um cocar dos cintas-largas e uma lança da tribo karitiana, cobriram o caixão. Espero que alguém dê prosseguimento ao trabalho dele. Meu pai não deixou uma família, deixou uma nação de índios que ficou desamparada. Na Funai [em Brasília, onde o corpo foi velado na segunda-feira], alguns me disseram que morreriam pelo meu pai. É uma nação de índios que eu não quero que o Brasil esqueça, disse Tainá.
Além de Tainá, o sertanista tinha mais três filhos: Apoena, 33, Francisco, 26, e Susyna, 5. Momentos antes do sepultamento, a mãe de Apoena, Abigail, 83, encomendou a alma do filho com cantos de oferenda a Oxalá. O Hino Nacional foi entoado pelos presentes. Apoena foi enterrado ao lado do pai, o sertanista Francisco Meireles.

CB, 13/10/2004, p. 14

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