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Festa da libertação

O Globo, Amanhã, p. 20-23
07 de Mai de 2013

Festa da libertação
Ensaio fotográfico revela a força e as cores das celebrações dos quilombolas de São José da Serra, em Valença. Evento para comemorar o 13 de Maio faz parte do Mapa da Cultura do estado

No mês em que a Lei Áurea completa 125 anos e o Congresso Nacional discute a PEC do Trabalho Escravo, já aprovada pela Câmara dos Deputados, o fotógrafo Domingos Peixoto, de O GLOBO, traduziu em imagens uma das mais tradicionais festas dos quilombolas afro-brasileiros.
Em seu ensaio fotográfico, Peixoto mostra a força e as cores das celebrações no quilombo São José da Serra, em Valença, no interior do estado do Rio. A comunidade constituída por descendentes de escravos tem hoje 200 habitantes. É um dos 13 grupos de quilombolas espalhado pelo estado, enquanto no país são mais de mil.
O quilombo de Valença parece pertencer a outro tempo. No próximo dia 13 de maio, a comunidade de São José da Serra comemorará a Festa do Preto Velho, que faz parte do Mapa da Cultura do Rio de Janeiro. O jongo, a capoeira e a folia de reis marcam o ritmo da festa, que tem na bênção da fogueira, no meio do terreiro, o seu ponto alto. As Nações Unidas consideram a cultura popular um dos pilares da sustentabilidade.

Tradição africana
Ritmo do Jongo

O Quilombo São José existe há 150 anos e é o mais antigo do Estado do Rio de Janeiro. Cerca de 200 quilombolas vivem no local, em casas de adobe ou pau-a-pique e telhado de palha. O trabalho em conjunto na agricultura de subsistência, o catolicismo, a umbanda, o artesanato tradicional, o fogão à lenha, o jongo e o Terço de São Gonçalo fazem parte do cotidiano dos moradores da comunidade desde a chegada dos seus antepassados na fazenda, por volta de 1850.
- Visitar São José é fazer uma viagem ao passado com direito à hospitalidade de todos as pessoas, dos mais velhos às crianças. Eles nos recebem com alegria, simpatia e satisfação, sempre prontos a oferecer o sofá de suas casas, um café e passar a tarde conversando - conta o fotógrafo Domingos Peixoto, que frequenta anualmente a Festa da Cultura Negra, onde se reúnem mais de cinco mil pessoas vindas de várias partes do mundo, sempre no mês de maio.
- As fotos deste ensaio foram realizadas em 2010, quando eu e um amigo, o documentarista Guillermo Planel, organizamos uma viagem à Valença. Durante o caminho fomos aproveitando para filmar e fotografar o processo de uma festa que dura 24horas. Além do ensaio, há um filme chamado "Imagens do Jongo", que pode ser assistido no YouTube - diz Peixoto.
Em 20 de novembro de 2009, os moradores do quilombo ganharam o título das terras da fazenda, mas, devido à burocracia, a posse definitiva ainda não aconteceu. Em fevereiro deste ano, a comunidade comemorou uma conquista importante para a preservação de suas tradições, e enfim, assinou o termo de emissão provisória na posse do terreno que hoje ocupa. O processo já tem mais de 20 anos e tudo indica que, em breve, os moradores se tornarão os proprietários dos 476,3 hectares de terra.
- Através do jongo, uma dança típica africana, a comunidade tem sido importante na difusão e na afirmação da identidade afro-brasileira. Os moradores têm feito palestras em escolas e recebido visitas no quilombo como forma de reforçar a luta do povo negro pelos seus direitos à tradição - resume Peixoto.

O Globo, 07/05/2013, Amanhã, p. 20-23

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