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Ferramenta mede acoes sustentaveis

GM, Meio Ambiente, p.A12
05 de Ago de 2004

Ferramenta mede ações sustentáveis
Software pretende mostrar que estratégias de gestão com foco sócioambiental ampliam lucros. A dúvida recorrente de empresários e gestores sobre como avaliar o impacto de suas ações em responsabilidade social no desempenho e lucratividade dos negócios já pode ser sanada por meio da matemática. Foi lançada ontem, em São Paulo, a Matriz Brasileira de Evidências de Sustentabilidade, uma ferramenta de gestão que faz a correlação dos fatores de sucesso de um negócio com as ações sustentáveis. O objetivo é mostrar, por meio de evidências - como o nome sugere - que uma gestão socialmente responsável é capaz de gerar maior lucratividade para as companhias.
A ferramenta foi desenvolvida a partir de um estudo realizado pela SustainAbililty , consultoria britânica de estratégia empresarial, o International Finance Corporation (IFC), entidade ligada ao Banco Mundial, e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. O estudo, intitulado "Developing Value" ("Criando Valor") serviu para mapear riscos e oportunidades para as empresas em suas estratégias de sustentabilidade sócioambiental. Foram analisados 240 casos, de 176 empresas localizadas em 60 países.
Adaptar esse modelo para a realidade brasileira foi o próximo passo, que deu origem ao modelo apresentado ontem, conduzido pelo Instituto Ethos com o apoio da Atitude Consultoria e a empresa de informática Cadmius, que fez as adaptações do software a um custo de R$ 6.500.
Em linhas gerais, é um instrumento gráfico que mostra visualmente o potencial de correlação entre a sustentabilidade (governança, processos ambientais, desenvolvimento da comunidade ao redor do empreendimento) e os indicadores convencionais de negócios - crescimento de receita, acesso ao capital, valor da marca, entre outras.
O modelo da matriz brasileira é formado por seis linhas, onde estão relacionados os fatores de sucesso nos negócios; e sete colunas, onde estão listados os indicadores de sustentabilidade (ver quadro). A intersecção formada entre os dois aspectos é a "célula" onde o empreendedor deve enquadrar sua experiência. "Trata-se de uma matriz evolutiva, disponível on-line, onde as empresas podem cadastrar seus cases e analisar o impacto que uma dada ação tem sobre os aspectos de negócios e sustentabilidade", explica Cibele Salviatto, consultora da Atitude.
Além de ferramenta de gestão, a matriz de sustentabilidade pode servir como instrumento de comunicação para as empresas, como um banco de dados com foco específico em sustentabilidade e como auxílio na escolha por indicadores. "É bom ressaltar que não é uma ferramenta para fazer ranking de empresas e, sim, para auxiliar nas estratégias a longo prazo", salienta Paulo Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos.
Passo-a-passo
A matriz brasileira, disponível no site www.ethos.org.br, é lançada já com business cases de 17 empresas cadastradas, do banco de práticas mantido pelo Ethos. Itacarambi convida as empresas a cadastrarem suas ações. "Basta entrar no site, identificar a célula e cadastrar o case. A cada três meses, um comitê técnico irá avaliar e aprovar a divulgação da experiência empresarial", explica. "É importante ressaltar que não se trata de uma ferramenta de marketing. Além da crença das empresas na sustentabilidade, é necessário mostrar evidências, e esse é o objetivo da matriz", diz Itacarambi.
A ferramenta matemática tem ainda o papel de indicar quais ações permitem às empresas alcançar seus resultados adotando procedimentos que fomentem o desenvolvimento sustentável. "É uma chave para abrir a mente dos empresários e fortalecer o conceito de que responsabilidade social não é filantropia e, sim, estratégia de negócios", resume Cibele, da Atitude.
Produção orgânica
Para a consultora, os indicadores de sustentabilidade são indissociáveis do bom andamento do negócio, embora nem sempre as ações dêem frutos a curto prazo. Ela cita como exemplo a Native, do grupo Balbo, fabricante de produtos orgânicos (açúcar, café e suco de laranja) de Sertãozinho (SP). Em 1987, antes mesmo da retomada da produção orgânica de alimentos, a empresa quebrou o paradigma vigente da queima da cana-de-açúcar antes da colheita. Sofreu dissabores, como a invasão de pragas diversas, até que paulatinamente foram implantadas ações para reestabelecer o equilíbrio ambiental nas fazendas da empresa.
Foram implantadas "ilhas" de vegetação nativa, que trouxeram aumento da biodiversidade e possibilitaram a introdução de predadores naturais, de modo que as principais pragas foram mantidas em nível controlado. A opção pela colheita da cana crua reduziu o consumo de água, que era utilizada em demasia para lavar a cana queimada.
A recompensa para a empresa veio com a inserção em um nicho de mercado que paga 60% a mais pelo açúcar produzido de forma orgância, com incremento nas exportações. "O caso Native é um exemplo claro de produto com foco ambiental que gerou crescimento de receita, acesso a novos mercados e valorização da marca , graças ao empenho em se trabalhar de modo sustentável", destaca Cibele.
kicker: A Native apostou em produção de cana orgânica e valorizou açúcar em 60%

GM, 05/08/2004, p. A12

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