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Fenômeno extremo vai se tornar freqüente

FSP, Cotidiano, p. C5
29 de Nov de 2008

Fenômeno extremo vai se tornar freqüente

Eduardo Geraque

Não há por enquanto uma explicação científica para o que ocasionou a seqüência de chuvas em Santa Catarina. Também não é possível associar o fenômeno ao aquecimento global -embora a possibilidade não possa ser descartada, afirma Carlos Nobre, climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
"Esse é o tipo de fenômeno extremo que vai ocorrer mais no futuro. A grande pergunta é: o futuro já chegou?" A falta de uma série histórica para os eventos climáticos no Brasil de pelo menos 150 anos impede um julgamento mais definitivo.
"Em muitas partes do mundo [onde existem séries históricas], já se consegue apontar o aquecimento global como culpado por eventos climáticos extremos. Aqui, isso ainda não é possível", diz Nobre.
As duas últimas grandes inundações catarinenses, em 1983 -que o pesquisador julga ter sido mais grave do que a atual- e 1998, estavam relacionadas com o fenômeno El Niño, diz Nobre, mas esse não é o caso agora. "Sem ele [El Niño], não existem elementos para a previsão."
O Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Inpe) não deu nenhum alerta nas últimas semanas sobre o risco de fortes inundações porque seus modelos não conseguiram prever as chuvas anômalas do último fim de semana, diz Nobre. Para o pesquisador, a situação poderia ter sido até mais grave.
"Algo muito parecido -meses de chuvas intensas com dias de chuvas muito intensas- ocorreu na Venezuela em 1999. Morreram 40 mil pessoas." Segundo Nobre, o sistema de defesa estadual de Santa Catarina, "o melhor do país", evitou que a tragédia desta semana tivesse sido maior.

Física
A física atmosférica consegue, no entanto, explicar o fato isolado, ou seja, o motivo de ter chovido tanto no fim de semana.
A temperatura dos oceanos está quase 1C acima do normal. Com isso, mais água evapora. Na alta atmosfera, o contrário. Está bem mais frio do que o esperado (quase 15C de diferença). Isso faz com que a umidade precipite com mais velocidade.
"E também existe um centro de alta pressão no oceano que bloqueia o ar que está vindo do sul", diz Paulo Artaxo, físico da USP. "Isso mostra que o evento foi anômalo". Para Artaxo, também está claro que eventos extremos do tipo vão ocorrer no futuro.

FSP, 29/11/2008, Cotidiano, p. C5

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