VOLTAR

Federal vai apurar crime de cárcere privado

O Liberal - Belém - PA
05 de Fev de 2001

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar crime de cárcere privado contra dez pessoas -sete funcionários do Incra de Brasília, Belém e São Félix do Xingu, dois vereadores daquele município do sul do Pará, e um cinegrafista amador. Eles ficaram em poder de 450 agricultores do Assentamento São Francisco e foram libertados somente no final da tarde de quarta-feira. "Os colonos terão que responder criminalmente pelo que fizeram", afirmou o superintendente da Polícia Federal no Estado, Geraldo Araújo.
Todos os reféns já depuseram no inquérito. Eles contaram as circunstâncias em que ficaram por três dias em poder dos colonos. Pelo que narraram, apesar de não terem sido maltratados, foram impedidos até de dormirem sozinhos. Eram sempre vigiados e ameaçados caso tentassem fugir .
O inquérito tem 30 dias para ser concluído e pode ser prorrogado se houver necessidade. Quem intermediou a soltura dos reféns, comprometendo-se em promover uma reunião com a direção do Incra na próxima semana em Belém, na sede do Ministério Público Federal, foi o procurador da República e dos Direitos do Cidadão, Felício Pontes Júnior.
Os colonos avisaram que não pretendem sair da área, mesmo sabendo que o local está situado dentro da reserva Apyterewa, dos índios parakanã.
Misteriosa -Em Marabá, o superintendente do Incra, Darwin Boerner, disse que os agricultores poderão ser transferidos da reserva para ~ Gleba Misteriosa, que fica a mais de 200 km de distância do local onde eles hoje se encontram. "Nós não iremos para esse local, que fica numa região de difícil acesso, sem estradas e nenhuma infra- estrutura", garantiu o líder dos colonos, José Ferreira.
Em 1987, a Fundação Nacional do Índio (Funai), através de um ato administrativo denominado interdição, estabeleceu uma área provisória de 980.000 hectares como local de ocupação tradicional da comunidade indígena Apiterewa-Parakanã. Em maio de 1992, após estudos complementares, o Ministério da Justiça declarou a área de posse permanente da comunidade indígena Apyterewa, determinando sua imediata demarcação física.
Explora -A partir de 1988, tendo como base de apoio a cidade de Tucumã, diversas empresas madeireiras como Maginco, Perachi e Impar começaram a entrar na área indígena em busca de mogno. A área Apyterewa era a última grande reserva de mogno do sul do Pará. As grandes empresas madeireiras nunca respeitaram os limites da área indígena, explorando seu potencial madeireiro até o esgotamento do limite sul da área.
As comunidades indígenas foram expulsas do limite sul da reserva. Anos após, a partir de 1993, em Tucumã, o limite sul da área indígena não era mais considerado como área de posse da comunidade Apyterewa. Sequer o Incra, responsável último pela estrutura fundiária da região, reconhecia e respeitava os limites da reserva.
Em 1993-1994, o próprio Incra desapropriava e regularizava propriedades particulares localizadas no interior da área indígena. Em uma destas operações de regularização, o Incra reconheceu o domínio do fazendeiro Wilson Torres (apontado, em 1999, pela Polícia Federal como um dos mais poderosos quadros do narcotráfico no Brasil) em plena área indígena e destacou uma parte da área para assentamento de trabalhadores rurais pobres.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.