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Fazendeiros são autuados por devastação na Terra Indígena Marãiwatsédé

Funai - http://www.funai.gov.br/
04 de Ago de 2009

Em uma ação de fiscalização da Funai na Terra Indígena Marãiwatsédé, no estado do Mato Grosso, foram encontrados 12 tratores agrícolas, em plena atividade de desmatamento e preparo de solo para plantio mecanizado no interior da área indígena. Após detectarem o crime, os funcionários da Funai solicitaram o apoio do Ibama e esse, por sua vez, autuou em flagrante, no dia 26 de julho, os fazendeiros Jurandir de Souza Ribeiro, proprietário da fazenda Conquista, e Antônio Penassio, da fazenda Colombo, pelo descumprimento de embargo e por impedir regeneração em área de especial recuperação.

Em função dos conflitos e da presença de invasores, a Fuani está desenvolvendo a Operação I'rehi, que instalou um posto de fiscalização na Terra Indígena Marãiwatsédé, com servidores trabalhando permanentemente com os indígenas. O objetivo é a proteção do cerrado que ainda resta naquela região. O Ibama e a Polícia Federal também foram acionados para combater a invasão e trabalhar em parceria com a operação.

Mesmo impedida de promover a retirada de invasores, a Funai e o Ministério Público do Mato Grosso aguardam decisão judicial, interposta no TRF 1o região, com o desembargador Pedro Francisco, que suspende a presença dos invasores na Marãiwatsédé.

No início do mês de julho, a Polícia Federal de Mato Grosso, desencadeou a Operação Pluma, nos municípios do chamado Vale do Araguaia, como Vila Rica, Santa Cruz do Xingu, Confresa, Porto Alegre do Norte, Ribeirão Cascalheira, Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia. O o objetivo da ação foi coibir a prática de grilagem de terras da União e vários outros crimes. Durante a operação, a PF apreendeu alguns membros de um grupo que teria feito grilagem, emissão de títulos falsos e extração de insumos vegetais da T.I. Marãiwatsédé.

Histórico da Terra Indígena Marãiwatsédé

Marãiwatsédé, no idioma Xavante, significa mato fechado, mata perigosa. Antes do primeiro contato com a população regional, existiam várias aldeias Xavante espalhadas estrategicamente na região, como forma a impedir invasões de outros grupos indígenas. Eles foram os últimos Xavante a serem contatados, por volta de 1957. Viviam nessa área de terra fértil, onde o cerrado começa a dar vez à Floresta Amazônica.

Desde então, os fazendeiros foram tomando conta daquele território e a solução encontrada, pelos proprietários das fazendas, foi transferir os índios Xavante de Marãiwatsédé para a Terra Indígena São Marcos, em um acordo que envolveu o Serviço de Proteção ao Índio - SPI, instituição anterior à Funai, a Força Aérea Brasileira - FAB e a Missão Salesiana de São Marcos, formada por padres que atuavam em outra área Xavante.

Em 1967, os indígenas aceitaram a imposição e entraram em avião da FAB, na pista da sede da fazenda, mudando-se para São Marcos. Para os membros de Marãiwatsédé, aquele era um território totalmente desconhecido, que por sinal é habitado por outros indígenas. Naquele momento também houve perdas irreparáveis, uma epidemia de sarampo atingiu o grupo, aproximadamente 150 pessoas, que pertenciam à comunidade de Marãiwatsédé, faleceram, por conta das doenças que foram adquiridas durante aquele contato trágico.

Essa terra tão cobiçada, foi "comprada" por uma empresa paulista, a Ometto, em 1961, e nela, estabelecida uma fazenda, que ficou com o nome hoje lendário de "Fazenda Suiá-Missu" Em 1980, a Fazenda Suia-Missu foi vendida para a empresa petrolífera italiana, AGIP. Durante a Conferência de Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, chamada Eco 92, a AGIP, pressionada por antropólogos brasileiros e italianos, e vendo que essa fazenda não lhe dava lucros devidos, resolveu doar de volta aos Xavante a terra que lhes pertencia. Desde 1992 a terra vem sendo ocupada e devastada por invasores.

Descontentes com o sofrimento de estar em outras terras, e após perderem diversos membros de sua comunidade, os indígenas resolveram retornar à sua terra de origem tendo, primeiramente, na década 1970, mudado para a Reserva de Pimentel Barbosa, onde o então cacique Paridzané fundou a aldeia Água Branca, mais próxima de Marãiwatsede. Mais recentemente, em 2003, aproximadamente 800 Xavante acamparam à beira da BR - 158, a 150Km a oeste de São Félix do Araguaia, nas proximidades do seu antigo território, até conquistarem na justiça, o direito de reocupar suas terras.
Em 10 de agosto de 2004, finalmente, os Xavante de Marãiwatsede retomaram suas terras, concretizando o direito reivindicado, agora reconhecido pela justiça brasileira, porém, enfrentando sérios problemas com os fazendeiros, madeireiros e posseiros que, ao longo dos últimos 40 anos, ocuparam as terras dos Xavante.

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