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Fauna terá dicionário com 38 mil verbetes

OESP, Vida, p. A18
19 de Jul de 2006

Fauna terá dicionário com 38 mil verbetes
Todos os grupos de animais, de esponjas a mamíferos, serão contemplados pela mais completa publicação de espécies brasileiras

A fauna brasileira ganhará finalmente um dicionário de acordo com sua importância. Os pesquisadores Nelson Papavero, aposentado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), e Dante Teixeira, do Museu Nacional, no Rio, preparam um compêndio de todas as espécies de animais do Brasil.

São 38.400 verbetes com todos os nomes de todos os grupos da fauna nacional, de esponjas a mamíferos, divididos em dois volumes. O primeiro trará o nome dos bichos em ordem alfabética e suas variações. O segundo terá ilustrações históricas e atuais de uma parte das espécies, além de um catálogo com nome científico atualizado.

O trabalho começou com uma revisão de uma obra básica na zoologia, o Dicionário de Animais no Brasil, escrito por um alemão, Rudolf Von Ihering, e publicado em 1940, que contava com apenas 6.700 verbetes. "O livro de Ihering é um clássico e é eterno. O nosso muda a quantidade de informação e a classificação, pois a estrutura taxonômica mudou muito nos últimos 50 anos", explica Papavero.

A pesquisa já consumiu sete anos e tomará mais três, até que todas as imagens sejam escaneadas, trabalhadas e diagramadas. Os dois ainda não têm editora interessada na publicação. Também não recebem verba específica para o projeto - apenas as bolsas de produtividades do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

"Este é um trabalho importante. Comprei num sebo meu exemplar do dicionário de Ihering", conta o biólogo Benedito Cortês Lopes, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Ele serve para a divulgação e a manutenção da língua, que cada vez mais se perde, e terá uso pelos cientistas."

O dicionário dará ênfase aos vertebrados. Só os peixes respondem por 60% do volume, seguidos por aves e crustáceos. Para cada um deles foram revistas a classificação taxonômica, as informações sobre distribuição geográfica e os nomes que são (ou foram) conhecidos no País.

Esta é uma das facetas mais interessantes da pesquisa, e também que exigiram mais paciência para que fontes diferentes fossem comparadas. Eles analisaram documentos sobre o Brasil Colonial, literatura específica do século 19 e principais referências do século 20. Também foram atrás da cultura popular - de receitas regionais a canções populares. Chegaram a 6.200 referências.

Nessas comparações descobriram que o assum-preto, ave que dá nome a um baião de Luiz Gonzaga, é na verdade a graúna - também usada por José de Alencar para descrever os cabelos de sua personagem Iracema.
"O campo da etnozoologia se abre. O conhecimento dos índios sobre os animais era imenso", conta Papavero. Eles usavam denominações diversas para cada tipo de animal que se perderam com a chegada dos portugueses. "As famílias do ramo tupi sabiam muito mais de zoologia que os jesuítas. Os europeus não tinham conhecimento nem consciência da diversidade e muitos nomes se perderam."

Um exemplo é o inseto voador amizagoa, que une duas palavras em tupi: "ami", que descreve uma aranha pequena, cinzenta e saltadora, e "zagoa", que pode ser traduzido como "comedor de aranha". Esse nome foi registrado pelo cronista Gabriel Soares de Souza no século 19, mas com a pasteurização lingüística promovida pelos europeus o bicho virou apenas mais uma entre tantas vespas.

FLORA BRASILIENSIS

A flora brasileira também será revista e as descrições, reunidas em uma nova obra. Só que este projeto tem verba e apoio - da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da empresa de cosméticos Natura e da Fundação Vitae.

O trabalho é extensão de um projeto de R$ 500 mil que colocou na internet todos as 4 mil pranchas de famílias selecionadas na obra Flora brasiliensis, publicada em fascículos no fim do século 18 e início do 19 por Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban.

A intenção é formar uma rede de especialistas que depositem seu conhecimento num sistema integrado de bancos de dados. As informações serão revisadas e disponibilizadas na rede.

O trabalho é parte intelectual, parte braçal. Isso porque Von Martius e seus colegas descreveram 23 mil espécies. O coordenador do projeto, Vanderlei Canhos, afirma que pelo menos 10 mil mudaram de nome deste então. "O último capítulo foi publicado em 1906. Temos cem anos de evolução da taxonomia."

Além da atualização da nomenclatura, eles esperam estipular quantas espécies de plantas brasileiras são conhecidas pela ciência. As estimativas variam de 35 mil a 50 mil. O objetivo é terminar um protótipo do sistema até outubro. Além das informações científicas sobre as espécies, o grupo quer colocar fotos delas no campo e imagens das folhas secas depositadas nos herbários.

OESP, 19/07/2006, Vida, p. A18

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