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Fantasma do passado ronda Belo Monte

Eco Amazônia
15 de Mai de 2008

Fantasma do passado ronda Belo Monte

Paulo Leandro Leal
Da redação

Um espectro sombrio do passado ronda o projeto hidrelétrico de Belo Monte, no Rio Xingu. Uma plêiade de Organizações Não Governamentais (ONGs) quer reviver o famoso encontro realizado em Altamira em 1989, quando a índia Tuíra ameaçou com um facão o então diretor da Eletronorte, José Muniz Lopes, pondo fim ao projeto de construção da então hidrelétrica de Kararaô. Quase 20 anos depois, dezenas de entidades planejam um encontro semelhante para sepultar de vez o projeto de aproveitamento hidrelétrico do Rio Xingu.
Glenn Swtikes, diretor da ONG americana International Rivers, anunciou que o maior encontro de indígenas da Amazônia Brasileira irá ocorrer em Altamira entre os dias 19 e 23 de maio. O objetivo, segundo o ambientalista, é demonstrar a oposição dos "povos indígenas" e seus aliados contra as barragens planejadas no rio Xingu. Em nota, a International Rivers diz que são esperados mais de mil índios, ribeirinhos, pequenos agricultores, além de ONGs internacionais, jornalistas, especialistas e autoridades públicas.
De acordo com o site Alerta em Rede (www.alerta.inf.br), a clara intenção de Switkes é fazer uma espécie de revivência do famoso Encontro de Altamira, de 1989. A coalizão contra as obras de Belo Monte é formada pelo Fórum Popular de Altamira, Prelazia do Xingu, Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (SINTEPP), Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade (MMTA-CC), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), STTR-Altamira, Grupo de Trabalho Amazônico Regional Altamira (GTA), Fórum da Amazônia Oriental, Comissão Pastoral da Terra e Associação do Moradores do Médio Xingu.
Assim como ocorreu em 1989, quando organizações internacionais deram suporte financeiro ao Encontro de Altamira, desta vez, diversas entidade estrangeiras vão patrocinar o evento. Entre elas o Instituto Socioambiental (ISA), Floresta Protegida, Amigos da Terra Amazônia Brasileira, International Rivers, WWF, Environmental Defense e Rainforest Foundation.
Não por coincidência, a movimentação das ONGs acontece no momento em que o Ministério Público Federal do Pará intensificou as ações para impedir o prosseguimento dos estudos de viabilidade da hidrelétrica. No começo do mês, o MPF conseguiu que a Justiça Federal de Altamira suspendesse mais uma vez os estudos. No dia 4, o procurador da República Felício Pontes Jr. enviou ao Tribunal de Contas da União uma representação pedindo a anulação do acordo de cooperação técnica, assinado em 2005 entre a Eletrobrás e as empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht, para a realização de estudos sobre a hidrelétrica.
Segundo denuncia o site Alerta em Rede, Pontes Jr. se relaciona de forma intensa com ONGs ambientalistas e outros movimentos similares. "Em outubro do ano passado, por exemplo, o MPF paraense promoveu um encontro com especialistas na questão energética e representantes de comunidades do rio Xingu para discutir os empreendimentos hidrelétricos na Amazônia. Um dos "especialistas" foi Glenn Swtikes, diretor da ONG americana International Rivers e notório articulador contra obras de infra-estrutura no Brasil", diz o site.
História - Em fevereiro de 1989 foi realizado o 1o Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira, patrocinado por entidades ligadas aos governos canadense a americano, segundo denuncia a jornalista do Canadá Elaine Dewar, no livro "Uma demão de verde. Os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios". No livro, a jornalista relata as viagens de Paulinho Paiakan ao Canadá e Estados Unidos e como foi arrecadado o dinheiro para promover o encontro de Altamira. Paiakan era primo da índia Tuíra. Boa parte do dinheiro, segundo relata a jornalista, foi conseguido graças à venda ilegal de ouro e madeira pelos índios Kaiapós.
Ainda de acordo com a jornalista canadense, tudo foi meticulosamente planejado para que o evento de 1989 ganhasse repercussão internacional e forçasse à paralisação do projeto de construção de uma usina hidrelétrica no Xingu. De fato, o projeto ficou paralisado desde então. Houve maciça presença da mídia nacional e estrangeira, de movimentos ambientalistas e sociais. Até o cantor inglês Sting apareceu para a festa.
Durante a exposição de Muniz Lopes sobre a construção da usina Kararaô, a índia Tuíra, prima de Paiakan, levantou-se da platéia e encostou a lâmina de seu facão no rosto do diretor da Eletronorte, num gesto teatral que parece ter sido ensaiado pelos melhores diretores de Hollywood . A cena ganhou as capas dos principais jornais do mundo e até hoje é tida como o símbolo da resistência indígena ao projeto.
O mais incrível nesta história é que os mais recentes estudos divulgados pela Eletronorte revelam que nenhuma área indígena será afetada pela hidrelétrica de Belo Monte.

Eco Amazônia, 15/05/2008

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