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Faminto por energia, mundo precisa de usinas nucleares

FSP, Mundo, p. A14
Autor: SMITH, P. D.; ANGELO, Claudio
13 de Abr de 2011

"Faminto por energia, mundo precisa de usinas nucleares"

Claudio Angelo
De Brasília

A energia nuclear jamais será perdoada pelo imaginário público de seu "pecado original": ter sido desenvolvida como instrumento militar e, portanto, para fazer bombas. Quem diz é o escritor britânico P. D. Smith, para quem o acidente em Fukushima pode retardar a luta contra o aquecimento global.
Smith é autor do livro "Os Homens do Fim do Mundo" (Cia. das Letras, 2008), que conta a história do desenvolvimento das armas atômicas do ponto de vista de Leo Szillard, o físico húngaro que primeiro teorizou a reação nuclear em cadeia, o que tornou possível o desenvolvimento do primeiro reator nuclear e da bomba.
A desconfiança que as armas atômicas produziram na opinião pública faz as pessoas olharem a energia nuclear como uma opção inerentemente menos segura, o que não é necessariamente verdade, diz ele.

Folha - Qual é o efeito esperado do acidente de Fukushima sobre o futuro da energia nuclear no mundo?

P. D. Smith - O desastre sem dúvida colocará mais gente contra a energia nuclear. Aqueles que estavam começando a aceitá-la para gerar energia e reduzir a dependência excessiva em combustíveis fósseis poderão recuar.

E ela é necessária?

A maior ameaça que enfrentamos hoje é o aquecimento global. Precisamos parar de usar combustíveis fósseis. O nuclear está longe de ser ideal, mas num mundo cada vez mais faminto por energia, infelizmente, tem de ser parte da solução.

Reatores de fissão foram criados com objetivo militar, e depois reembalados como opção "para a paz". A energia nuclear vai algum dia se livrar desse "pecado original" na percepção do público?

A resposta simples é não. Como eu tentei mostrar em "Os Homens do Fim do Mundo", mesmo no século 19 novas fontes de energia estavam ligadas, na cultura popular, às superarmas.
A ciência da radioatividade foi saudada como a realização desse sonho, a força que colocaria a utopia ao nosso alcance e até mesmo acabaria com a guerra. Mas esse sonho virou pesadelo na Guerra Fria, quando o mundo chegou à beira do Armagedon nuclear que teria matado milhões de pessoas.

Há razão para esse temor? Faz mais de 50 anos que essa energia está em uso e só houve três grandes acidentes.

Há riscos associados a todas as fontes de energia. As emissões de usinas termelétricas a carvão causam problemas respiratórios e milhares de mortes todos os anos. Isso não nos impede de construir mais dessas usinas.
Ano passado, tivemos o pior derramamento de petróleo da história. As pessoas vão parar de comprar carros por causa disso? Acho que não. Nossas sociedades tecnológicas consomem vastas quantidades de energia. Isso precisa vir de algum lugar.

FSP, 13/04/2011, Mundo, p. A14

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1304201105.htm

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