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Famílias indígenas abandonadas

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Antonio Viegas
14 de Out de 2002

NECESSIDADES - Expulsos de uma aldeia, 156 índios, entre eles cerca de 40 crianças, estão no Porto Cambira enfrentando sol, chuva e a falta de medicamentos

Aproximadamente 80 famílias de índios guaranis estão abandonadas nas proximidades do Rio Dourados, no local conhecido como Porto Cambira. O grupo foi expulso da Aldeia Tey Cuê, em Caarapó, depois de ter suas casas incendiadas e parte de seus pertences queimada. No total são 156 pessoas, das quais cerca de 40 são crianças, que estão enfrentando até problemas de saúde.
Ontem à tarde, apenas quatro famílias haviam montado seus barracos. As demais estavam enfrentando sol e chuva na beira da estrada. Esses índios, no dia 16 de outubro do ano passado, foram expulsos, por determinação judicial, da Fazenda Brasília do Sul, no município de Juti, depois que fizeram reféns alguns funcionários da fazenda. Eles estavam naquela localidade há vários anos, onde montaram a Aldeia Taquara, porque as terras teriam sido identificadas como área indígena. Mas, na época, em forma de protesto pela demora na liberação, decidiram invadir a sede para chamar a atenção das autoridades.
Os proprietários conseguiram com que esses índios fossem expulsos da fazenda através de uma grande operação policial e eles foram encaminhados para a Aldeia Tey Cuê, no município de Caarapó, com a garantia de que, em 15 dias, seria definido um local para assentá-los. Já se passou praticamente um ano e eles não tiveram nenhuma resposta. No sábado foram expulsos pela própria comunidade da Tey Cuê e obrigados a procurar um local para acampar. O grupo escolheu a área do Porto Cambira por haver água nas proximidades.

Líder
O líder do grupo é o cacique Marcos Veron, 76 anos de idade, que denunciou como responsável pela expulsão da aldeia o líder indígena e chefe do Conselho Indígena de MS, Silvio Paulo, bem como um médico da Funasa, em Caarapó, que também estaria negando atendimento para os doentes pertencentes ao grupo de Marcos Veron. Ele denunciou, ainda, o índio Euclides de Souza, que teria incitado a comunidade da aldeia a atear fogo em suas casas e destruir seus pertences.
Ontem, a situação no local improvisado era deprimente e, por várias vezes, o cacique chegou a chorar de desespero por ver seus patrícios abandonados. Em vários pontos, no meio do mato, era possível ver crianças doentes e sem abrigo, já que não existe lona suficiente e muito menos medicamentos. Um dos filhos de Veron chegou a dizer que está preocupado com a saúde e com a cabeça do pai, que já chegou a pensar até mesmo em suicídio. Outro índio, pai de quatro filhos e que ainda está sem barraco, disse que se a situação continuar como está, não vê outra saída a não ser se suicidar junto com sua família.

Reivindica
Marcos Veron disse que já encaminhou documentos à Funai, ao Ministério Público Federal e a vários outros órgãos, mas nenhuma solução foi apontada em relação à demarcação da Fazenda Brasília do Sul, que eles consideram aldeia de seu grupo. Agora a situação é ainda pior, porque foram abandonados por seus próprios patrícios.
O grupo não chegou a fazer ameaças de invadir alguma área próxima ou tomar qualquer medida mais drástica, entretanto exige a presença dos procuradores federais no local e uma posição sobre o andamento do processo da referida fazenda. Um outro pedido é para que a Funai e Funasa os auxiliem com lonas e atendimento médico.

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