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Família de "Chico Tripa" lidera destruição de retiro indígena em Surumu

CIR-Boa Vista-RR
28 de Mai de 2003

O vereador de Uiramutã, Francisco das Chagas de Oliveira (Chico Tripa), ex-posseiro da fazenda Retiro, onde o macuxi Aldo da Silva Mota foi executado e enterrado numa cova rasa em janeiro deste ano, após receber indenização para deixar a terra indígena, continua praticando violência contra as comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol. "Chico Tripa" junto com o irmão "João do Boi" incitaram e lideraram um grupo de 60 moradores do vilarejo de Surumu que destruiu um retiro indígena da aldeia do Barro, na noite de 26 de maio de 2003.

"João do Boi" adquiriu em sociedade com "Chico Tripa", uma posse ao lado do vilarejo de Surumu, após receber indenização de 91 mil reais pelas benfeitorias da fazenda Retiro. De acordo com Lei, depois de indenizado ele deveria deixar a área, mas preferiu continuar uma escalada violência contra as comunidades da região.

A posse está no entorno do vilarejo Surumu, uma das cinco 'corrutelas' instaladas no interior da Raposa Serra do Sol, considerada pelo governo de Roraima essencial ao desenvolvimento do Estado, que defende uma demarcação em ilha. Pesquisa recente feita pelos indígenas constatou que cerca de 150 pessoas vivem no povoado.

Segundo denúncia do tuxaua Anselmo Dionísio Filho, 27, da Aldeia do Barro, comunidade vizinha ao vilarejo, às 9 horas da noite um grupo de não índios esteve em sua casa insistindo para que fosse até o "Bar do Piauí" (na vila) para uma reunião. O tuxaua recusou o convite, mas devido a insistência cedeu a pressão foi ao bar acompanhado da esposa.

No bar, um grupo de 60 não-índios tramava a destruição do 'retiro', localizado a dois quilômetros da 'vila'. Ainda insistiam para que o tuxaua fosse até o local assistir o vandalismo. Anselmo se recusou, mas fez um alerta: "se vocês vão derrubar, por favor não machuquem ninguém que estiver lá" avisou. Ele temia pela vida Paulo Sérgio Pereira da Silva, 28, o vaqueiro da aldeia que cuidada do 'retiro'. "Quando ouvi aquele barulho de caminhão, gente gritando e derrubando tudo corri e fui avisar o tuxaua", lembra Paulo.

Após o final da reunião no "Bar do Piauí", 'João do Boi' e 'Chico Tripa' passaram no Destacamento da Polícia Militar e convidaram um sargento de Plantão para acompanha-los. Segundo informações dos indígenas, o sargento recusou-se alegando "não ter autorização do comandante", porém nada fez para impedir a destruição.

Os posseiros junto com alguns índios da organização denominada Alidcir - Aliança para o Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima - ligada ao governo do Estado, destruíram uma casa, um curral e um cercado onde estavam 52 cabeças de gado da aldeia. "Eles tentaram colocar fogo, mas tinha serenado e as palhas e madeira estavam molhadas, por isso, não pegou fogo" informa Paulo Sérgio.

O indígena José Bonifácio, 27, saía da escola José Anchieta, quando viu o tuxaua cercada pelos posseiros no Bar. Ele acompanhou o grupo a certa distância e assistiu a destruição do retiro. "Eles levaram gasolina para colocar fogo em tudo, mas não conseguiram", garante.

Impunidade - O posseiro 'Chico Tripa' foi indenizado pelas benfeitorias da fazenda Retiro onde Aldo da Silva Mota foi executado com um tiro no peito. Já se passaram cinco meses do homicídio e o inquérito não foi concluído pela Polícia Federal. O vereador e dois empregados da fazenda, principais suspeitos pela morte, continuam soltos e livres para praticarem agressões contra os povos e comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol.

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