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Falta de vigilancia ameaca reservas

JB, Cidade, p.A15
06 de Jun de 2005

Falta de vigilância ameaça reservas
Reserva do Tinguá tem dois fiscais para 26 mil hectares. Funcionário assassinado em fevereiro ainda não foi substituído
Branca Nunes
Todas as 98 reservas ambientais do Estado do Rio estão expostas a diferentes tipos de atividades predatórias, entre as quais se destacam a caça de animais, a extração ilegal de palmito, a exploração de areia e a ocupação ilegal do solo. Algumas delas estão especialmente vulneráveis. É o caso da Reserva Biológica do Tinguá, no município de Nova Iguaçu. Ali, em 22 de fevereiro deste ano, foi assassinado o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, 61 anos, um dos responsáveis pela criação da área.
O crime chamou a atenção do país, mas pouca coisa mudou no Tinguá. Apenas dois funcionários estão incumbidos de fiscalizar 26 mil hectares (o espaço do gramado do estádio do Maracanã é de 1 hectare), além dos 500 mil quilômetros quadrados de entorno. Até agora, o funcionário assassinado não foi sequer substituído.
- Não dá para vistoriar nem 20% da reserva. Algumas áreas que foram fiscalizadas hoje só serão vistas novamente no ano que vem - lamenta o chefe da reserva, Luiz Henrique dos Santos Teixeira.
Segundo o deputado estadual Carlos Minc (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, as reservas fluminenses ocupam, somadas, cerca de 900 mil hectares. Para vigiá-las, não existem mais que 160 fiscais. A média é inferior a dois homens por reserva.
A reserva da União resume exemplarmente as carências desse mundo verde. Seus 3.126 hectares se estendem pelos municípios de Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Macaé. Não existe nenhum fiscal para protegê-la.
- Com cinco fiscais conseguiríamos fazer a guarda de todo local. Nossos problemas diminuiriam consideravelmente - conta Whitsun José da Costa Júnior, chefe da reserva.
Para Carlos Minc o quadro é ''bastante desanimador''.
- Precisamos de gente, recursos e equipamentos - constata o deputado. - Cerca de 70% das reservas não tem sede e muito menos telefone. Além da fiscalização, faltam uma melhor demarcação e a regularização fundiária nas áreas ao redor.
A escassez de fiscais é um dos problemas mais graves enfrentados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Calcula-se que exista no país um fiscal para cada 37 mil hectares de áreas supostamente preservadas.
Para suavizar as cores inquietantes desse painel, abriu-se um concurso para a contratação de 610 fiscais. Desse total, 20 serão designados para o Rio.
É pouco. Márcio Castro das Mercês, um dos fiscais da reserva do Tinguá, afirma que só aquela área requer 100 homens - o mínimo necessário para um trabalho de vigilância eficaz.
Além da falta de pessoal e recursos, freqüentes ameaças de morte figuram entre as preocupações prioritárias dos ambientalistas. A última incursão de fiscais na fiscalização da reserva do Tinguá resultou na apreensão de duas espingardas e cartuchos de balas de diferentes calibres.
- Evitamos sair à noite e caminhar desacompanhados no entorno da reserva. O calibre dos cartuchos que encontramos dariam para matar um elefante, um homem, não são para matar os animais que temos aqui - diz Luiz Henrique. - Achávamos que eram só ameaças, mas depois do assassinato de Dionísio percebemos que a coisa é mais séria.
Para Márcio das Mercês, a falta de políticas públicas nas comunidades do entorno da reserva é a grande vilã da história.
- Muitas vezes os caçadores são pessoas desempregadas, sem acesso a educação e outros meios de vida. Não podemos colocar todos no mesmo barco - afirma o ambientalista.
Quase sempre, as reservas fluminenses estão incrustadas em áreas de urbanização. Algumas são rodeadas por favelas com alto índice de criminalidade. Muitas vezes a reserva é usada como esconderijo de armas. Os fiscais acreditam que alguns caçadores estejam envolvidos com o tráfico de drogas.
Com longos cabelos ruivos, fala pausada, Márcio afirma que as dificuldades não o levarão ao desânimo, muito menos à capitulação:
- Talvez esteja um pouco melancólico, mas vou continuar lutando. O homem precisa entender que preservar a natureza é preservar a própria vida.

JB, 06/06/2005, p. A15

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