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Falta de recursos ameaça saúde de tribos indígenas

O Liberal-Belém-PA
Autor: Nilson Santos
13 de Jan de 2005

Criada para tratar basicamente da saúde indígena de nove aldeias de seis etnias do sudeste do Pará, a Organização Não-governamental Associação dos Povos Indígenas do Tocantins (Apito) está enfrentando sérias dificuldades para cumprir seu papel. Desde junho do ano passado, a entidade deixou de gerenciar recursos anuais de cerca de R$ 850 mil, perdendo as condições de continuar atendendo as comunidades indígenas.

Os recursos, provenientes do governo Federal, são destinados para a compra de medicamentos, pagamento de funcionários, inclusive a equipe médica, compromissos com fornecedores, aí incluídos fretes de aeronaves que constantemente são usados para o deslocamento para aldeias mais distantes. Desde que a Funasa assumiu o comando das ações, as dificuldades começaram.

Atualmente, a Ong está enfrentando sérios problemas operacionais, que tendem a aumentar, caso não sejam saldados imediatamente vários compromissos que estão vencidos a quase três meses.

No prédio da administração da Apito, apenas uma linha telefônica está funcionando, já que as demais já foram cortadas. Assim como cortado está o crédito junto ao posto de gasolina que fornece combustível à entidade, que também está sem poder fretar aviões para os deslocamentos às aldeias mais distantes de Marabá. Sem receber manutenção, alguns veículos da Ong estão virando sucata.

O líder indígena Zeca Gavião confirmou que desde que a descentralização dos recursos a entidade passou a ser apenas executora da prestação de serviço médico para os índios de nove aldeias. Zeca Gavião reconhece que nos primeiros meses desse novo modelo de gestão, as coisas até que correram bem. Mas sofreram um colapso a partir de novembro, quando a Funasa deixou de cumprir o seu papel. Até os salários de alguns funcionários estão em atraso.

De acordo com Zeca Gavião, apesar das dificuldades dos últimos meses, os índios não deixaram de receber assistência médica. Ele tem buscado parcerias, até mesmo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), para evitar mortes nas aldeias por falta de atendimento médico. Gavião isenta a Funasa de responsabilidades no caso.

'O governo já percebeu que a experiência não deu certo', afirma é a gerente da Ong, Concita Guaxipiguara, uma Xerentei-Guarani. Ela é esposa de Zeca Gavião. Foi Concita quem esteve em Brasília em junho do ano passado participando da reunião em que o governo federal decidiu que o recurso destinado a Ong seria gerenciado de duas maneiras. Uma parte pela Funasa e outra através do Serviço de Assistência a Saúde (SAS), cujo repasse tem que ser feito através de uma prefeitura. Foi a prefeitura de Bom Jesus do Tocantins que aceitou fazer essa parceria e a gerente garante que a parte que toca a SAS, pelo menos até agora tem funcionado a contento. Ela ressalta que o problema maior é que quem ficou responsável pelo gerenciamento da maior parte do recurso, foi a Funasa de Belém. 'E por aqui não podemos fazer nada. Temos que esperar que tudo seja aprovado pela Funasa de Belém', explica.

De acordo com Concita, apesar do atendimento médico aos índios não ter sido ainda afetado, mas a assistência médica nas aldeias está suspensa. Com o crédito cortado junto ao posto que fornece gasolina e sem poder fretar aviões, o deslocamento da equipe médica está temporariamente impossibilitada, seja por terra ou por ar. Concita lembra que tem aldeia de difícil acesso aonde só se chega de aeronave. 'Quando a viagem é por terra, o carro geralmente volta quebrado justamente pelas péssimas condições das estradas', ressalta. E sem dinheiro para manutenção, o veículo fica encostado por tempo indeterminado. Vários documentos já foram encaminhados para Brasília relatando o problema.
É provável que a Apito volte ao gerenciamento geral de todos os procedimentos muito em breve.

Equipe - Além do corpo administrativo composto ainda da biomédica Iracema Barra e da auxiliar de administração Ana Luíza e de outros funcionários como motoristas, a equipe da Apito é composta ainda de 2 laboratoristas, 2 enfermeiros, 1 médico, além das técnicas em enfermagem que permanecem diretamente nas aldeias. Iracema explica que para que os povos das selvas não fiquem sem assistência direta, uma auxiliar de enfermagem, ou técnica, permanece na aldeia por vinte dias com direito a folga de dez, tempo em que é substituída por uma colega.

Aldeias que são atendidas pela Apito no sudeste do Pará

Parauapebas:

Aldeia Kateté (Xixcrin)
Aldeia Djudjekô (Xicrin)

Bom Jesus do Tocantins

Mãe Maria (Gavião)
Krikategê (Gavião)

Itupiranga

Aldeia Ororoba (Atikum)
Aldeia Guajanaús (Guajajara)

Canaã dos Carajás

Aldeia Kanaí (Atikum)

São Domingos do Araguaia

Aldeia Sororó (Suruí)

Jacundá ou Nova Ipixuna

Aldeia Nova Jacundá (Guarani)

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