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Falta de espécies ajudam a alimentar o desejo da volta

Diário de Cuiabá - Cuiabá - MT
Autor: Carla Pimentel
25 de Fev de 2001

O Parque Indígena do Xingu não tem castanha. Não tem cacau, marajá, arumã e uma longa lista de outras plantas que fazem parte da cultura Kayabi, alimentando o desejo de retorno que não foi apagado pelas três décadas que separam a época da transferência dos dias atuais.

O tupi - língua dos Kayabis - revela a importância da variedade da flora para a etnia: o idioma não comporta uma designação genérica para vegetal, como o português. Cada tipo de planta tem seu nome, marcando sua singularidade em relação às demais.

Mas as plantas que ajudaram a construir a identidade dos Kayabis não foram encontradas no novo lar. Segundo o relatório elaborado em 1999 pelo Instituto Socioambiental (ISA), características de clima e solo da região do rio dos Peixes gera diferenças também na floresta, que é mais desenvolvida que no parque indígena.

A castanha-do-Pará, importante na alimentação Kayabi, é uma das espécies que mais deixaram saudade depois do deslocamento para o Xingu. O arumã, usado para a fabricação de cestas, é outra ausência sentida pelos índios. O relatório elaborado pelo ISA listou uma série de outros exemplos, como siriva, açaí, jatobazinho e taquari.

A falta da argila com que os índios faziam suas cerâmicas e de outros materiais com que produziam cestas, flexas e cocares estão fazendo com que, aos poucos, os costumes ancestrais dos Kayabis sejam deixados de lado.

O relatório do ISA alerta que muitas variedades de plantas cultivadas pelos Kayabis estão se perdendo, já sendo difícil encontrar famílias que ainda preparam roçados com policulticos diversificados. Os pesquisadores avisam que este processo também representa uma perda irreparável de recursos genéticos.

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