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Falta de água atinge criação de tilápias

OESP, Economia, p. B7
13 de Set de 2014

Falta de água atinge criação de tilápias

Chico Siqueira - Estadão Conteúdo

Piscicultores da maior região produtora de tilápias do País paralisaram nesta sexta-feira (12) a passagem de carros pela ponte rodoferroviária sobre o Rio Paraná, que liga os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O ato foi uma tentativa de interromper a queda do nível do reservatório de Ilha Solteira, no Rio Paraná, entre os dois Estados, onde estão concentradas 38 fazendas aquáticas que produzem 22 mil toneladas de tilápias (saint peter) por ano.
Por quatro horas, aproximadamente 200 piscicultores paralisaram o tráfego de veículos por cerca de 2 quilômetros na parte rodoviária dos dois lados da ponte. Apenas ambulâncias e carros de emergência foram liberados. Depois de quatro horas, os manifestantes encerraram o ato. Ao final, os piscicultores conseguiram a promessa de um encontro com representantes da Procuradoria Geral do Estado, da Cesp e da Casa Civil, para discutir a situação.
"Foi uma vitória. Conseguimos chamar a atenção para a situação de prejuízo dos piscicultores", disse a secretária executiva da Associação dos Piscicultores de Três Fronteiras e Região (Apropesc), Marilsa Fernandes. Segundo ela, a produção de tilápias, que emprega cerca de 5 mil trabalhadores, caiu até 40% neste ano, por conta da falta de água. "Pelo menos cinco grandes fazendas paralisaram as atividades e dispensaram centenas de trabalhadores", afirmou.
Os piscicultores querem que a geração de energia elétrica seja paralisada pela hidrelétrica de Ilha Solteira. A geração e a estiagem reduziram o nível do reservatório a um ponto que não produz mais oxigênio para sustentar a criação dos peixes nas fazendas, que receberam até incentivos do Governo Federal para serem instaladas. "Os piscicultores tentam mudar os tanques redes de lugar, para regiões mais profundas, mas nem sempre isso é possível ou dá resultado", disse Marilsa.
O temor dos piscicultores é de que o segundo ciclo de criação de saint peter (são dois por ano), que começa em novembro, não seja possível por conta da falta de água, uma vez que a temperatura aumenta e reduz ainda mais a oxigenação da água. "Por isso, os piscicultores querem que a usina pare de gerar energia ou pelo menos mantenha o nível atual do reservatório. Além disso, a redução do nível da represa também afeta a produção agrícola e o turismo", disse Marilsa.
Em agosto, a Apropesc e outras associações conseguiram na Justiça a paralisação da hidrelétrica, que estava gerando energia abaixo do mínimo estabelecido na legislação do uso múltiplo das águas. Na decisão, o juiz Rafael Andrade de Margalho, de Jales (SP), determinou que a hidrelétrica paralisasse a geração de energia abaixo da cota mínima. Porém, em recurso ao Tribunal Regional Federal (TRF), o ONS conseguiu manter a geração, mesmo abaixo do nível estabelecido pela legislação. Ontem, a usina estava gerando energia na cota 320,1 metros do nível do mar, quando o mínimo é 323 metros.
"O que eles estão fazendo é desrespeitar a Política Nacional dos Recursos Hídricos, pois ao gerar abaixo do mínimo prejudica outros setores que têm o mesmo direito de usar as águas do rio Paraná", disse Marilsa. "E o ONS teve a desfaçatez de pedir à Justiça para flexibilizar as regras da Política Nacional de Recursos Hídricos para que ele possa continuar gerando energia mesmo em desacordo com a legislação. Se continuarem gerando abaixo do mínimo, certamente será o fim de nossa atividade nesta região."

OESP, 13/09/2014, Economia, p. B7

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