Exuberância verde perderá força em 2005

Exuberância verde perderá força em 2005

Mauro Zafalon
Da redação

O censo agrícola divulgado ontem pelo IBGE mostra um cenário para o setor que pode não se repetir a partir de agora. Não pela produção, que seguirá crescendo, mas pela renda dos produtores, cujo processo de queda iniciado neste ano deve se acentuar mais em 2005.
A agropecuária brasileira viveu momentos favoráveis nos últimos anos. Internamente, as condições de produção foram perfeitas até 2003, mas se complicaram neste ano, principalmente para a soja.
Externamente, os estoques mundiais de grãos desceram a patamares perigosos devido à quebra de produção em áreas importantes, como EUA, Europa e Austrália. As commodities atingiram valores recordes, o que engordou a renda do produtor brasileiro.
Neste final de ano, o cenário começa a mudar. Os EUA, que patinavam havia cinco anos em busca de uma boa safra, conseguiram produções recordes de soja e de milho, o que repôs os estoques mundiais e derrubou os preços.
O mesmo ocorreu com as carnes. Problemas em outros países permitiram ao Brasil avançar em novos mercados. Aos poucos, os problemas sanitários estão sendo resolvidos pelos concorrentes dos brasileiros, e o país terá mais dificuldade para manter esses mercados. A perda, nesse caso, não deverá ser grande porque o produto brasileiro é bastante competitivo.
Uma das maiores preocupações é com a soja. Após espalhar dinheiro pelo país nos últimos anos, o produto deverá dar rentabilidade apertada. Sem os preços recordes e com a renda menor dos produtores, vão cessar os efeitos milagrosos desse produto sobre as novas fronteiras agrícolas.
Os produtores começam a ficar descapitalizados. Gastaram de 20% a 30% a mais para plantar a nova safra, mas vão receber cerca de 30% a menos pelos produtos.

FSP, 26/11/2004, Dinheiro, p. B5