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Explosao de navio deixa 3 mil sem trabalho

O Globo, O Pais, p.10
18 de Nov de 2004

Explosão de navio deixa 3 mil sem trabalho
Roberta Canetti
Especial para O GLOBO
Mais de três mil pescadores estão sem trabalho e sem renda por causa do desastre com o navio chileno Vicuña, que explodiu na segunda-feira no Porto de Paranaguá (PR) e contaminou o litoral paranaense com óleo combustível e metanol (combustível altamente inflamável). As duas substâncias vazaram do navio destruído pela explosão de seus tanques. As manchas chegam a 20 quilômetros do local do acidente.
O navio estava carregado com 14 milhões de litros de metanol, e faltava descarregar cinco milhões de litros no momento da explosão. Dois tripulantes morreram, e os corpos de outros dois estão desaparecidos.
O Ibama proibiu, por tempo indeterminado, a pesca nas baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba, afetadas pelo vazamento. O ministro da Aquicultura e da Pesca, José Fritsch, visita o litoral paranaense hoje para avaliar os prejuízos para as famílias e deve anunciar a liberação de seguro para os pescadores registrados da região.
— Eles vão ser indenizados pelos responsáveis pela tragédia, mas o processo é demorado, ainda mais porque o navio não é brasileiro. Vamos liberar o seguro-defeso, que é de um salário-mínimo, por 60 dias. Se for preciso, o seguro poderá ser estendido — disse o ministro.
O vazamento de óleo diesel e óleo bunker (de motor de navio) ainda não parou. O combustível que resta no navio está sendo bombeado diretamente para caminhões-tanques.
As barreiras para impedir que o óleo e o metanol continuem se espalhando foram reforçadas ontem. São cinco mil metros de contenção. A limpeza da área deve durar pelo menos três meses. O Instituto Ambiental do Paraná não sabe a proporção do estrago na vegetação, nas praias e na fauna da região.

Empresas serão multadas
A Polícia Federal fez ontem uma vistoria nos destroços do navio Vicuña, mas ainda não descobriu a causa das duas explosões. O navio está com o convés submerso a 14 metros de profundidade e a proa (parte dianteira) e a popa (parte traseira) na superfície. O presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Rasca Rodrigues, disse que todas as empresas envolvidas serão multadas em valor ainda não foi calculado, mas que deve chegar a R$ 50 milhões.
Isso inclui as chilenas Sociedad Naviera Ultragas, dona da embarcação, e Humboldt Shipmanagement Ltda., responsável pela administração do navio, e a Cattalini Terminais Portuários. As explosões ocorreram quando o Vicuña estava no píer da Cattalini, descarregando metanol e óleo diesel.
Segundo o presidente do IAP, a empresa é responsável pela operação de emergência para contenção do vazamento, mas só escalou 60 técnicos e não tinha equipamentos adequados.
— O vazamento tomou proporções inéditas no litoral paranaense por conta da negligência.
Os 24 tripulantes resgatados pelos bombeiros estavam incomunicáveis em um hotel desde a explosão, mas ontem puderam ligar para as famílias no Chile e na Argentina. O chileno Jaime Vieira, responsável pela descarga do combustível, escapou e foi salvo no mar pelo mestre-de-lancha Roberto da Costa. Os dois se encontraram ontem.
— O que eu podia fazer eu fiz e consegui salvar algumas vidas. Não precisa me agradecer — disse Costa ao tripulante.
Continua a busca pelos corpos de Ronald Peña e Alfredo Omar Vidal, desaparecidos.

O Globo, 18/11/2004, p. 10

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