VOLTAR

Exploracao ecologica e rara na Amazonia

JB, Pais, p.A4
07 de Mar de 2005

Exploração ecológica é rara na Amazônia
Daniela Dariana
É possível extrair madeira da Amazônia e lucrar, sim, com seu comércio, sem estar fora da lei nem ser ecologicamente incorreto. A tarefa, contudo, só é cumprida com certeza em 1% da área total da floresta, o equivalente a 3% (ou 1,6 milhões de hectares) da madeira extraída lá. A informação é do engenheiro florestal e técnico de desenvolvimento de mercado para produtos sustentáveis da ONG WWF Brasil, Estevão Braga.
Apesar de o Ministério do Meio Ambiente afirmar que a quantidade de madeira explorada de forma legal é maior - seriam 50% da extração da Amazônia -, diversas ONGs ligadas ao meio ambiente consideram que a licença conferida pelo Ibama é insuficiente para garantir a atuação ecologicamente correta das madeireiras licenciadas. O instituto não teria poder de fiscalização para inspecionar a prática dos planos de manejo apresentados por essas empresas, por exemplo. O Ibama admite falta de pessoal, mas adianta que está em processo de aprimoramento da inspeção, com contratação de pessoal e melhorias tecnológicas. Alega ainda haver outra pedra no caminho de firmas que gostariam de fazer o manejo responsável: falta de incentivo financeiro.
Diante das dificuldades do governo federal, o selo de uma entidade internacional chamada FSC (Forest Stewartship Council ou Conselho de Manejo Florestal) tem sido usado como certificado de correção ambiental.
A FSC definiu padrões mínimos para o bom manejo da floresta, considerando benefícios ecológicos e sociais, questões legais e viabilidade econômica. Os critérios são os mesmos para o mundo inteiro, adaptados à legislação de cada país e a cada vegetação. Auditores credenciados fazem verificação no mínimo anual nas empresas, com monitoramentos-surpresa.
O credenciamento é voluntário, portanto não é cobrado pelo Ibama, mas um dos requisitos do FSC é o cumprimento de todas as leis vigentes no local da extração, como a contração de trabalhadores pela CLT, o uso de equipamento de segurança e a posse comprovada da terra.
Ser ecologicamente correto, conforme os critérios internacionais da FSC, leva em conta, entre outras coisas, a maneira como a árvore é cortada, um inventário florestal com as espécies presentes, cuidados ao manter a composição da vegetação e no transporte da madeira extraída. Ex-auditor da FSC, o engenheiro ambiental Estevão Braga explica que os critérios técnicos que garantem o manejo responsável da floresta são os mesmos que asseguram um maior lucro para as empresas, por evitar o desperdício de recursos naturais.
- Comparamos a exploração de impacto reduzido com a convencional e verificamos que o lucro é 17% maior - assegura, comemorando o fato de ''as madeireiras sérias estarem aprendendo que é mais vantajoso ser ecologicamente correto''.

Como ser legal e extrair madeira da Floresta Amazônica
Garantia de que a floresta se manterá a longo prazo
Para manejar uma floresta, é preciso assegurar que a extração não exceda a reposição natural da vegetação. É necessário fazer um cálculo de quanto ela cresce por ano. A quantidade de madeira retirada não pode ser maior do que esse valor. A exploração é comparada por especialistas a uma pizza dividida em fatias: a extração é feita, por exemplo, em um pedaço por ano, de forma que, dentro de 25 a 30 anos, ao retornar àquela primeira fatia explorada, ela já estará recuperada e pronta para uma nova extração. A exploração de alto impacto, ao contrário, é chamada de estilo gafanhoto”, por não se preocupar com a sobrevivência da floresta
Planejando a derrubada
A derrubada convencional (a que não é planejada e que causa grande impacto ambiental) gera maior desperdício. A planejada pressupõe um mapeamento inicial de todas as árvores adultas. Ao derrubar uma árvore, é preciso verificar se ela está oca. Se sim, não pode ser derrubada. No corte convencional, as árvores são derrubadas aleatoriamente, apesar de nem todas serem utilizadas depois
Corte sem desperdício
Um ano antes da extração, os cipós amarrados a determinada árvore precisam ser cortados. Caso contrário, todas as outras árvores que estiverem presas ao mesmo cipó cairão junto. É importante fazer também um corte direcionado, para que a queda não atinja outras árvores. Para reduzir o impacto da exploração da madeira, deve-se fazer o corte no nível mais baixo possível, quando na extração de alto impacto só é considerado o conforto e o nível do braço do operador da motosserra
Transporte da madeira
É preciso tomar uma série de cuidados no transporte da madeira, calculando, por exemplo, se ela cruzará rios ou causará assoreamento em seus cursos, se será preciso criar uma ponte ou abrir estradas
Equilíbrio entre as espécies
É preciso garantir um número mínimo de indivíduos de todas as árvores presentes para não alterar a composição da floresta. Não é permitido retirar muito de uma mesma espécie, como o mogno, por exemplo, como normalmente acontece na extração de alto impacto. É preciso também assegurar que existam plantas de pelo menos duas gerações além da que está sendo retirada. As árvores mais jovens devem estar localizadas em áreas que garantam oportunidade de crescimento, com luz e água
Área obrigatoriamente preservada
As empresas de exploração de madeira certificadas deixam uma área de comparação de 20%, ou seja, parte da floresta que é mantida intacta e é chamada de área-testemunha. Assim, o restante da floresta que é explorado pode ser monitorado constantemente para se verificar se a composição da floresta mudou, sendo necessária uma reposição de determinadas espécies, ou se ela conseguiu se recuperar conforme o planejado.

JB, 07/03/2005, p. A4 (País)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.