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Exploração desordenada dos recursos naturais pode repetir na Amazônia a história do Sudeste Asiático

A Gazeta-Manaus-AM
Autor: SORAYA PEREIRA
25 de Nov de 2001

Até a década de 80, Malásia e Indonésia eram responsáveis pela exploração de 50 milhões de metros cúbicos de madeira tropical dura e em toras por ano. Mas há 10 anos, se tem registrado uma acentuada queda nesta produção, devido ao esgotamento dos recursos naturais daquela região. A exploração desordenada dos recursos naturais pode repetir na Amazônia a história do Sudeste Asiático. Este tema foi pauta de discussão na Amazontech 2001, evento que ocorre em Boa Vista (RR), de 20 a 25 de novembro.

Hoje, a produção asiática gira em torno de 20 milhões de metros cúbicos por ano e o foco para aquisição de matéria-prima voltou-se para a Amazônia, o que tem preocupado pesquisadores e autoridades públicas devido à exploração predatória.

Empresas asiáticas têm comprado terras no Estado do Amazonas e no Peru em busca de madeira. No ano passado, elas foram denunciadas por lideranças indígenas por invadir território indígena na fronteira do Acre com o Peru, o que provocou um desgaste diplomático entre Brasil e Peru.

De acordo com dados do Ibama, oficialmente, o Brasil produz 25 milhões de metros cúbicos de madeira tropical em tora por ano. São madeiras oriundas do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Deste total, 25% vêm de desmatamentos autorizados, 7% de projetos de manejo florestal e 68% de exploração ilegal. Isto significa que de cada 10 toras que saem da Amazônia, quase 7 são de origem clandestina.

Ainda assim, estes dados não refletem a realidade. As imagens de satélite e a notável falha de fiscalização levam a crer que estes números podem ser, no mínimo, o dobro.

Só no Estado do Amazonas, no período de 96 a 98, o número de autorizações do Ibama não chegou a 20% do total da área desmatada. A informação é do pesquisador Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Segundo ele, mais do que adotar medidas para garantir a fiscalização eficaz e o cumprimento da legislação, é preciso investir em tecnologias para uso sustentável da floresta e, finalmente, acabar com a ilusão de que as dimensões das florestas amazônicas são suficientes para garantir a sua sobrevivência à exploração desordenada.

A exuberância da floresta contrasta com a pobreza do solo. Assim, o uso desordenado dos recursos naturais pode comprometer a biodiversidade destes ecossistemas e a qualidade de vida das populações que vivem nestas regiões; a exemplo do que aconteceu no Norte da África e no Sudeste da Ásia, onde praticamente foram esgotados os recursos florestais, deixando as populações pobres em situação ainda mais crítica. "A sabedoria está em antecipar medidas para evitar a escassez", conclui Higuchi.

Acre dá exemplo de manejo florestal

O manejo florestal sustentável permite explorar os recursos madeireiros com o menor impacto ambiental. A técnica consiste em usar a área de reserva legal em cada propriedade, dividindo-a em 10 partes iguais, as UPAs (Unidades de Produção Anual). A Embrapa Acre, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, desenvolve esta tecnologia em parceria com pequenos produtores do Projeto de Assentamento Pedro Peixoto, no município de Acrelândia, a 90 km da capital Rio Branco.

Definidas as UPAs, produtores e técnicos executam o inventário florestal prospectivo. Nesta etapa, todas as árvores com diâmetros acima de 50cm dentro das UPAs são identificadas, medidas e mapeadas. O inventário define o potencial madeireiro de cada UPA e o nível de intervenção que poderá ser empregado.

Desta forma, o produtor tem condições de planejar a extração anual de madeira, sem comprometer a estrutura da floresta, e prever a receita resultante da venda da madeira como se fosse uma poupança verde.

A cada ano, apenas um terço do volume de madeira comercial da UPA é explorado, o que, no caso do Projeto de Assentamento Pedro Peixoto, no Estado do Acre, resulta em uma média entre 5m³ e 10m³ de madeira em tora por hectare. A receita líquida gerada pela atividade gira em torno de R$ 1 mil por propriedade ao ano.

Como a idéia é produzir o menor impacto ambiental possível, a retirada da madeira, que passa por um processo de pré-beneficiamento, é feita com uma zorra (implemento regional que é atrelado aos bois para o arraste de cargas) e uma carroça puxadas por bois, o que reduz o dano à floresta nesta fase do manejo. Com esta tecnologia, a floresta regenera-se naturalmente ao longo de um ciclo de 10 anos de exploração.

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