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Expedicoes vao mapear a riqueza natural do Amapa

OESP, Geral, p.A8
02 de Ago de 2004

Expedições vão mapear a riqueza natural do Amapá
Se para muita gente arrumar as malas para um fim de semana na praia já é difícil, imagine preparar a bagagem para 20 dias no interior da floresta amazônica, em terras onde, talvez, nenhum homem jamais pisou. Esse foi o desafio de Enrico Bernard e uma equipe de pesquisadores, que partiram ontem para a primeira de uma série de 15 expedições com o objetivo de catalogar a biodiversidade de algumas das áreas mais inexploradas da Amazônia, no Estado do Amapá.
"Algumas dessas áreas nunca foram amostradas. Vamos caminhar por locais onde provavelmente ninguém - ou pouquíssimas pessoas - pisou até hoje", empolga-se Bernard, biólogo da organização Conservação Internacional (CI) e coordenador das expedições. A lista de bagagem inclui 3 toneladas de carga, entre combustível (mil litros), comida (500 quilos) e equipamentos (1.500 quilos), como redes e armadilhas. O roteiro, distribuído ao longo de dois anos, inclui incursões pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru, com mais de 800 mil hectares, e pelo Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque, maior parque de floresta tropical do mundo, com quase 4 milhões de hectares - a maior parte intocada pelo homem, ou pela ciência. Em um dos pontos mais isolados, os pesquisadores terão de ser deixados de helicóptero.
Cada expedição deverá durar cerca de 20 dias, durante os quais a única comunicação com o mundo exterior será por meio de um telefone via satélite.
A primeira, que começou ontem, colocará os cientistas nas entranhas da Floresta Nacional do Amapá, a 114 quilômetros da capital Macapá. A viagem levará cerca de dois dias por terra e água. Parte do grupo saiu já na terça-feira para preparar o acampamento, formado por quatro barracões de lona. A equipe toda é composta por sete pesquisadores, sete assistentes, quatro soldados do 3.o Batalhão de Infantaria de Selva do Exército - incluindo um especialista em comunicação e outro em resgate -, dois analistas ambientais do Ibama e cinco ou seis barqueiros.
"Expedições desse porte são muito raras hoje em dia", afirma Bernard. "De certa forma, estamos fazendo o que os naturalistas faziam nos séculos passados." O objetivo da missão é simples: registrar, no máximo de detalhe possível, todas as espécies que aparecerem pela frente. Muitas também serão capturadas e levadas de volta a Macapá para as coleções biológicas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa).
A equipe científica inclui especialistas em aves, répteis, anfíbios, mamíferos, crustáceos, peixes e plantas superiores.
Planos de Manejo - Diante do isolamento das regiões, é quase certo um encontro dos exploradores com espécies ainda desconhecidas. "A expectativa é de que podemos duplicar o conhecimento da biodiversidade em alguns lugares", avalia Bernard, especialista em morcegos.
"Queremos fazer uma amostragem mínima de dez dias para cada grupo." Os dados coletados, segundo ele, servirão para a elaboração dos planos de manejo das unidades e de políticas públicas de conservação para a região. "Não se pode proteger algo que não se conhece", diz. "Para preservar, é preciso saber o que se está preservando."
O projeto, orçado em R$ 700 mil, é uma iniciativa da CI, em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o Iepa, o Ibama-Amapá e o Exército Brasileiro. Com uma população de apenas 500 mil habitantes - equivalente ao município de Ribeirão Preto, no interior paulista -, o Amapá vive uma situação privilegiada entre os Estados da Amazônia. Cerca de 95% do seu território é de vegetação virtualmente intocada, e mais de 55% dela protegida por unidades de conservação (UCs) de diversos tipos. Doze delas formam o Corredor de Biodiversidade do Amapá, um grande mosaico de preservação do tamanho de Portugal, com 10 milhões de hectares. A idéia, também desenvolvida em parceria com a CI, é interligar todas as UCs, de forma que as espécies não fiquem ilhadas.
Enquanto muitos olhariam para este mapa como um empecilho ao desenvolvimento, o governo do Amapá aposta justamente na biodiversidade para alavancar a economia do Estado, hoje baseada em pescado, madeira, castanha e frutas tropicais. Tanto que está investindo na criação de outras três UCs para completar o corredor.
"Não vemos o corredor como uma faixa improdutiva, mas uma área onde pode haver desenvolvimento social e econômico, sob uma ótica de preservação e exploração dos recursos naturais", diz o secretário especial de Desenvolvimento Econômico do Estado, Alberto Pereira Góes. Além de investir no turismo, uma das idéias é criar um Pólo de Produtos Naturais para comercializar e agregar tecnologia aos produtos da floresta, como frutos e resinas. Só o Iepa, segundo Góes, já desenvolveu 67 produtos fitoterápicos e fitocosméticos a partir da flora do Amapá.

OESP, 02/08/2004, p.A8

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