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Expedição tenta salvar índios no Javari

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
Autor: Mário Adolfo
04 de Abr de 2004

Se o índio não vai à clínica médica, a clínica vai ao índio. É com essa estratégia que parte amanhã, de Tabatinga, a 2.000 Km de Manaus, a Expedição Imagem do Javari, na Bacia Amazônica, que tem por objetivo rastrear as doenças infecto-contagiosas nas tribos indígenas da região, que só no ano passado mataram mais 20 índios. Idealizada e liderada pelo médico radiologista catarinense Sérgio Brincas, a expedição foi lançada quinta-feira, no hotel Grand Miliá, São Paulo, e está sendo patrocinada pela Divisão de Imagens para a Saúde da Kodak e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).

Utilizando barcos como clínica, a missão humanitária de saúde levará modernos equipamentos médicos de diagnóstico por imagem para as tribos, a fim de tratar as doenças infecciosas que ameaçam a sobrevivência dessas populações. A equipe percorrerá cerca de 600 Km pelos leitos dos rios Itaqui e Ituí para realizar exames de raios-x e ultra-sonografia, além de exames de sangue para rastreamento de doenças infecciosas, principalmente hepatite e turberculose.

Embora arrisquem alguns diagnósticos, os médicos radiologistas e epidemiologistas que integrarão a expedição não podem diagnosticar com precisão o que realmente vem matando os índios.

Segundo os dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) um surto de hepatite B Delta vem atacando os índios na região. A estimativa, segundo dados revelados no lançamento do projeto, é de que 70% dos 3.916 índios do Vale do Javari estejam contaminados com o vírus de dois tipos de hepatite. De acordo com o Dr. Brincas, a missão pretende examinar cerca de mil índios das tribos Matis, Marubo, Kanamari e Korubo, os "índios caceteiros", temidos pelos homens brancos pela fama de matar os invasores com golpes de bordunas (cacetes).

- Afluente do Solimões, o Javari é uma região que ultimamente vem apresentando uma incidência muito alta de doenças infecciosas, no caso a hepatite, tuberculose, hanseníase...diversas doenças afetam os índios naquela região. E a gente acredita que essas doenças chegaram à área indígena pelo contato com o homem branco - explica Sérgio Brincas, observando que a maioria dos povos indígenas vive no Vale do Javari, uma região que se estende por aproximadamente 20,7 milhões de acres às margens dos rios Ituí e Itaquaí, nas proximidades das fronteiras com o Peru e Colômbia.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) estima que cerca de 53 tribos vivam nessa região em relativo isolamento do homem branco.

- A idéia é examinar os índios para diagnosticar e evitar que esse tipo de doença atinja aquelas comunidades isoladas, aqueles índios que recusam manter contato com a nossa sociedade -, diz Sérgio Brincas, um ex-surfista idealista que se formou em medicina e resolveu colocar seu conhecimento a serviço de causas humanitárias.

A expedição Imagem do Javari nasceu de um contato do Dr. Sérgio Brincas com o sertanista Sydney Possuelo (foto à dir.), chefe do Departamento de Índios Isolados da Funai. Em busca de projetos sociais onde pudesse exercitar o que aprendeu na Universidade Federal de Santa Catarina e no dia-a-dia da Clínica Imagem, em Florianópolis, o Dr. Sérgio foi levado em janeiro ao Vale do Javari por Possuelo - que trabalha com índios desde 1970 -, para conhecer de perto os motivos da preocupação do sertanista. Percebendo o que poderia encontrar na selva, o médico convidou Bia Boleman, fundadora da Dunas e Ventos, empresa que já organizou expedições em desertos latino-americanos desde 1981, para acompanhá-lo, no que até então não passava de uma curiosa aventura. Mas o que eles viram no Vale do Javari mudou para sempre suas cabeças. A Expedição, que começou com "uma tímida pesquisa para saber os preços das passagens aéreas" - para chegar a Manaus e posteriormente Tabatinga -, terminou numa monstruosa parafernália de sofisticados equipamentos e reacendeu a luz da esperança no coração dos povos da floresta.

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