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Expedição evitará contato com "caceteiros"

Amazonas emTempo-Manaus-AM
Autor: Mário Adolfo
07 de Abr de 2004

A Expedição Imagem do Javari, que está navegando em direção aos rios Itaquaí e Ituí não pretende fazer contatos com o grupo arredio dos índios Korubo, os chamados índios "caceteiros", que costumam matar os invasores da floresta com golpes de borduna. No entanto, pretende examinar 22 representantes dessa etnia que formam um grupo dissidente e se relacionam pacificamente com os brancos. O objetivo da expedição, segundo o radiologista Sérgio Brincas, é tentar evitar que a doença infecciosa que vem matando os Marubo, Matis, Kanamari e Korubo chegue às aldeias isoladas que se recusam a manter contato com a sociedade dos brancos.

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a estimativa é de que a maioria dos povos indígenas do Brasil vive no Vale do Javari, num área que se estende por aproximadamente 20,7 milhões de acres às margens dos rios Ituí e Itaquaí, bem próximos à fronteira com o Peru e a Colômbia. Cerca de 53 tribos vivem nessa região em relativo isolamento do homem branco.

- Ali são diversas etnias e nós não sabemos quais as que vivem de forma arredia, que não querem contato com os brancos. Uma delas é dos índios caceteiros, que são os korubo. Eles vivem isolados e até matam. Só que existe um grupo de 22 dissidentes dessa aldeia que se dividiram por um motivo interno qualquer. É esse grupo, que mantém contato com os brancos, que nós vamos examinar para evitar que a doença chegue aos índios isolados - explica o Dr. Brincas.

Os "temíveis" korubo são conhecidos como "caceteiros", pelo fato de se utilizarem de uma borduna de madeira para matar. Eles vivem isolados entre os rios Itaquaí, Ituí e Quixito. De acordo com o Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), no final de 1996 um grupo de 22 pessoas foi contactado. Atualmente o diretor do Departamento de Índios Isolados da Funai, Sydney Possuelo ainda mantém contato com este grupo.

Transportando um sofisticado laboratório a bordo, a Expedição Javari, com uma equipe multidisciplinar, composta de 17 pessoas, entre médicos, engenheiros e pessoal de apoio, partiu de Tabatinga com a missão de realizar exames nos índios que vivem no Vale do Javari para tentar diagnosticar e tratar doenças infecciosas que estão ameaçando as tribos.

Sobre o risco que a missão humanitária corre, o sertanista Sydney Possuelo - chefe do departamento de Índios Isolados da Funai -, que rejeita o apelido "caceteiros" por "ser pejorativo", adverte que índio isolado é "índio isolado mesmo". Por isso ninguém tem que fazer contato, mas sim respeitar sua decisão.

- Eles não atacam se não forem atacados. A única história comprovada de massacre na região é de brancos que massacram um grupo de índios. Esses, os corpos foram localizados.

Possuelo observa que mesmo entre os isolados são aqueles povos que desde a época do descobrimento até hoje não mantém contato regular com a sociedade nacional. "Muitos deles foram ver a nossa parafernália técnica porque nós entramos em contato com eles - diz Possuelo, informando que, no entanto, nessa mesma área existem outros povos que já têm contato regular há 20, 30, 50 ou mais anos com o homem branco. E as mortes causadas por essa doença contagiosa estão acontecendo exatamente com os povos que têm contato regular com a sociedade.

- E o meu departamento só responde mesmo por esses grupos isolados, proteger a flora e a fauna e o meio ambiente para que eles vivam a sua vida profissional. Acontece que é da periferia que está vindo essa doença. Não se sabe como se propaga, como chega. E se amanhã ou depois ela chega num grupo isolado desses. Mata todo mundo e ninguém nem sabe.

O sertanista acredita que a expedição, inédita no Brasil, tem uma finalidade clara e especifica porque vai em busca de uma situação de saúde que já existe, para tentar resolvê-la.

- Nos últimos dois anos houveram muitas mortes e não se sabe direito o que vem acontecendo. Vamos começar a investigar o que está acontecendo. Ninguém sabe direito o que está acontecendo e tem muita gente falando bobagem. A proposta é chegar com profissionais e equipamentos para fazer o que tem que ser feito: investigação. Ninguém sabe nada sobre Amazônia, sobre índio, sobre coisa nenhuma. Existe um equilíbrio quebrado esse equilíbrio tem conseqüências. E ninguém sabe quais são.

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