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Expedição alerta para área em RO de importância biológica

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
01 de Out de 2003

Uma pequena clareira de 900 metros quadrados, encravada no Parque Nacional da Serra da Cutia, em Rondônia, revelou-se uma área de extrema importância biológica para a fauna local. Ali se reúnem grandes grupos de antas, pacas, veados e porcos-do-mato, além das mais variadas espécies de aves, vespas, abelhas, borboletas e mariposas, todos atraídos pelos sais minerais, concentrados em uma mancha de solo, arenoso e inundável, chamado pelos técnicos de barreiro e pela população local de "chupador".

Esta característica de atrair animais, que torna a área biologicamente rica, no entanto, é também sua maior fonte de problemas: naquele ponto, o parque nacional faz limite com a Reserva Extrativista do Barreiro das Antas, que é estadual e não está devidamente implementada, servindo de via de acesso a caçadores comerciais.

Há relatos de até 10 antas abatidas em uma única caçada e evidências de um verdadeiro mercado negro de carne de caça, em franca atividade na cidade mais próxima, Guajará-Mirim, onde uma única anta vale em torno de R$ 1.500.

"A área é uma antiga floresta de bambus, que está na fase de regeneração, após o florescimento", conta o pesquisador Leandro Valle Ferreira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que avaliou a área durante uma expedição científica, realizada em agosto último.

Ele explica que as florestas de bambu florescem e frutificam de uma só vez, a intervalos de 50 a 100 anos, dependendo da espécie. Depois todos os bambus lançam sementes e morrem, abrindo clareiras, até que as sementes brotem, voltando a criar uma floresta. Atualmente, a parte aberta do barreiro tem cerca de 30 x 30 metros, já cercados pela rebrota dos bambus, mesclados a diversas espécies arbóreas.

"Os papagaios, araras, jacutingas e jacus oferecem um grande espetáculo e o local é perfeito para pesquisas, dada a facilidade de observação da fauna", continua Ferreira. "Ficamos a menos de 10 metros das antas e elas pareceram nem nos notar, daí o alto risco dos caçadores promoverem uma verdadeira carnificina".

As observações de fauna foram feitas durante o dia e a noite, a partir de uma pequena plataforma suspensa, a 5 metros altura, junto a membros da organização não-governamental Kanindé. O levantamento é uma parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), existente desde novembro de 2002, para a elaboração do plano de manejo do parque.

Para Leandro Ferreira, a proteção ao barreiro precisa ser rápida e efetivamente implementada, com a restrição da via de acesso. "Este local é de extrema importância biológica, devido ao pequeno tamanho da área, grande quantidade de animais avistados, diversas plantas, provavelmente endêmicas (exclusivas daquela região) e grande densidade de animais", disse.

A equipe da expedição verificou a ocorrência de uma grande variedade de espécies de bromélias e orquídeas, típicas de uma vegetação de transição entre a floresta de igapó e a campinarana, tendo coletado material botânico para análise e identificação.

A fase de levantamentos deve prosseguir até fevereiro de 2004, mas o pesquisador já sugere medidas de conservação para o barreiro. "Com três postos de fiscalização é possível controlar a área, visto que a reserva extrativista, ao lado, é de ocupação recente e não tem uma grande população, funcionando apenas para a passagem dos caçadores".

Ferreira ainda aponta para a situação privilegiada do Parque Nacional da Serra da Cutia, praticamente inserido em um corredor ecológico, composto por reservas, parques e terras indígenas. "Falta somente garantir a proteção integral ao barreiro, cuja vocação é de pesquisa e educação ambiental".
(-Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ-01/10/03)

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