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Expedicao acha ultimos exemplares de beija-flor

OESP, Vida, p.A31
21 de Mai de 2005

Expedição acha últimos exemplares de beija-flor
O 'Ramphodon dohrni', o mais ameaçado do mundo, ainda sobrevive ao fim do seu hábitat, entre ES e BA
Luiz Roberto de Souza Queiroz
Uma expedição científica de três semanas nos resquícios de mata do norte do Espírito Santo e sul da Bahia comprovou que ainda existem alguns exemplares do Ramphodon dohrni, o beija-flor mais ameaçado do mundo, avezinha de 6,3 gramas, com penas iridescentes que mudam da cor dourada para a do bronze, conforme incide a luz. A ave é tão rara que só os museus de Paris, Londres, de Augusto Ruschi e de São Paulo conservam exemplares dela.
O problema é que, como a ave é rara, durante a expedição não foi possível identificar as flores de que se alimenta. Seus hábitos são desconhecidos, jamais alguém viu seu minúsculo ninho, que se supõe seja tecido com fios de teia de aranha, não se conhece sua importância como polinizadora e, sem conhecer seus costumes e os micro-hábitats de que precisa, fica muito difícil desenvolver um projeto para preservá-la.
O ornitólogo Jacques Veilliard, da Unicamp, que, com o biólogo André Ruschi e Paulo de Tarso Antas, da Aracruz, percorreu a região, ficou impressionado com a destruição. "Percorri as florestas da área em 1973 e era coisa de filme de Tarzan", lembra. "Mas, agora, as matas do Rio Doce foram destruídas e os pequenos fragmentos onde vive o beija-flor estão isolados."
SOBREVIVÊNCIA
A preocupação do cientista é que, ao contrário dos tucanos e outras aves comedoras de frutas, que voam de uma para outra mata, esse beija-flor fica sempre no sub-bosque e não atravessa áreas devastadas, impedindo que exemplares de uma reserva cruzem com aves de outros fragmentos, o que é vital para renovar o patrimônio genético e garantir a sobrevivência da espécie.
A esperança dos pesquisadores está em duas empresas produtoras de celulose, Aracruz e Veracel, que plantam eucalipto na região e mantêm biólogos estudando a fauna nos pequenos trechos de matas preservadas. Se for possível descobrir quais são as flores visitadas pelo beija-flor e suas fontes de proteínas (além do néctar, eles consomem insetos, moscas e minúsculas aranhas), será possível cultivar as plantas necessárias, impedindo que uma seca prolongada, por exemplo, leve a espécie à extinção.
O Ramphodon dohrni foi descoberto em 1852 e é ave endêmica, isto é, em todo o mundo, só existe numa área restrita do Espírito Santo e da Bahia, onde havia um tipo de mata atlântica conhecida como "hiléia baiana". É espécie que nunca foi numerosa na natureza e está sendo extinta pela destruição do meio ambiente.
Uma fazenda do Grupo Klabin, onde a ave vivia, por exemplo, foi vendida e por lei o novo proprietário pode cortar metade da mata nativa, explica Veilliard. E, se o novo proprietário vender para outro, esse também pode cortar metade da mata original, e assim a cada nova venda.
O professor Veilliard conta que o beija-flor consome tanta energia para ficar parado no ar que, dependendo da espécie, o coração bate até 600 vezes por minuto, enquanto o humano tem 60 pulsações em repouso.
"A ave é tão rápida que não tem predadores, explica o cientista, e não teme o homem. "Um deles voou curioso até a um palmo do meu rosto e ficou pairando no ar", conta.

OESP, 21/05/2005, p. A31

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