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Exercito comeca a chegar ao Para, mas nao tem prazo para deixar area

FSP, Brasil, p.A10
17 de Fev de 2005

Exército começa a chegar ao Pará, mas não tem prazo para deixar área
Iuri DantasEduardo ScoleseDa Sucursal de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente, José Alencar, definiram que a ação do Exército no Pará ocorrerá por tempo indeterminado. O objetivo é evitar que a presença militar seja tratada como mais uma ação emergencial a reboque de acontecimentos com repercussão negativa ao governo federal.O presidente Lula conversou ontem, por telefone, por cerca de 20 minutos com o vice-presidente, José Alencar, assim que desembarcou em Brasília após viagem ao Suriname. Alencar relatou a Lula as últimas ações em torno do envio do Exército ao Pará. Hoje, pela manhã, haverá uma reunião da cúpula do governo no Planalto para tratar do tema.Ontem, em nota, o comando do Exército disse que 2.000 homens da Força terão o apoio de aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira). Todos estarão sob o comando do general-de-brigada Jairo César Nass, com sede de comando em Altamira (PA)."Inicialmente", segundo o comando da Força, serão utilizados militares de Manaus (AM), Belém (PA) e Marabá (PA). Além disso, na seqüência da operação no interior paraense, poderão atuar homens do comando de Recife (PE), da brigada de pára-quedistas do Rio de Janeiro (RJ), do comando de operações especiais de Goiânia (GO) e do Comando de Avião do Exército de Taubaté (SP).Bases temporárias Assim como ocorreu no Haiti, onde o Brasil comanda uma operação de paz da ONU desde o ano passado, o Exército irá criar bases temporárias (com barracas de lona, por exemplo), como na cidade de Anapu, onde a freira americana Dorothy Stang foi assassinada no último sábado.Ontem, um primeiro efetivo de 150 soldados fez o deslocamento para a cidade de Parauapebas, na região sul do Estado, onde o sindicalista Soares da Costa Filho foi morto anteontem com três tiros.Além disso, o governo federal pretende aproveitar a presença de tropas do Exército no Estado do Pará para colocar em dia as fiscalizações de regularização fundiária, desmatamento e cumprimento de leis trabalhistas, além das atividades que serão desenvolvidas pela Polícia Federal.AlvosOs alvos foram apresentados aos militares ontem, em reunião realizada durante quase todo o dia de ontem em Belém, por representantes locais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e da DRT (Delegacia Regional do Trabalho). As polícias estaduais listaram uma série de mandados de prisão ainda não cumpridos devido ao clima tenso no centro-oeste e sul do Estado.Diante da não-estipulação de um prazo para o término das operações, a PF e as polícias do Pará pretendem aproveitar ao máximo isso. Há diversas tarefas cotidianas que não são realizadas devido à tensão entre madeireiros e sem-terra. Segundo o superintendente da PF no Estado, José Sales, faz parte do costume do Pará as pessoas andarem armadas no interior.
Pastoral compara intervenção no Pará com ação da ditadura militar
Ana FlorDa Sucursal de Brasília A direção da CPT (Comissão Pastoral da Terra) relacionou a morte de Dorothy Stang ao fracasso "de um governo que prioriza o agronegócio" e comparou a intervenção do Exército no Pará a soluções dos militares aos conflitos sociais na ditadura (1964-85).Apesar de se colocar a favor de uma intervenção federal no Pará, o presidente da CPT, dom Tomás Balduíno, disse que a presença é um "paliativo". "A gente não gostaria que a questão social fosse resolvida na base policial ou militar. Foi assim que os militares da ditadura tentaram resolver", disse.Cobrou do governo ações que combatam "a raiz" do problema.A nota de ontem de CPT, entidades religiosas, ambientais e de defesa da reforma agrária diz que a morte da freira foi uma "profecia". Dom Tomás diz que ela não pedia segurança pessoal, mas "proteção para aquele povo". Por isso, a CPT classificou como "escusa" a afirmação de Nilmário Miranda (Direitos Humanos) de que a irmã não tinha proteção porque não solicitara. A assessoria do Planalto disse que o governo não comentaria as críticas.
FSP, 17/02/2005, p.A10, Brasil

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