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Ex-presidente da Funai é morto em Porto Velho

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: Nilton Salina
11 de Out de 2004

Sertanista Apoena Meireles enfrentava crime organizado em reserva Roosevelt

Porto Velho - Até o final da tarde de ontem as polícias Civil, Militar e Federal caçavam os assassinos do sertanista Apoena Meireles, de 55 anos, funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai), morto com dois tiros de revólver calibre 38 no tórax, às 21 horas de sábado, na matriz do Banco do Brasil. Ele reagiu a um assalto anunciado por dois homens, brigou com um deles e foi atingido pelo outro.

O sertanista tinha ido ao banco sacar dinheiro para sair com amigos da Funai. Um menino de rua acostumado a dormir na cobertura do banco disse na manhã de ontem que viu quando um dos assaltantes chegou perto da agência e ficou observando a movimentação de clientes. Quando Meireles e Mansur entraram, o ladrão subiu a rampa.

"O casal foi atacado assim que saiu. O homem que estava sendo assaltado era grande e resolveu se atracar com o bandido, mas logo em seguida ouvi um tiro e saí correndo. Fiquei com medo e fui me esconder", contou o menino.

O assalto foi gravado pelo sistema de segurança do banco. Ontem à tarde, a Polícia Civil tentava melhorar a qualidade das imagens para uma identificação mais segura dos assaltantes.

Por volta das 16 horas, foi distribuído aos agentes o retrato falado de um dos assaltantes, elaborado através dos depoimentos de Mansur e do vigilante do banco, Antonio Andrade Filho, que também viu o assassinato.

Meireles estava na região acalmando os índios cintas-largas, que vivem na reserva Roosevelt, a cerca de 500 quilômetros de Porto Velho. No local está localizada uma grande jazida de diamantes, onde 29 brancos foram executados em abril deste ano. O garimpo está fechado por determinação do governo federal, mas os caciques anunciaram recentemente que iriam reiniciar a extração de pedras.

A confiança dos caciques no governo federal está abalada porque técnicos do Ministério das Minas e Energia haviam dito que o garimpo seriam regularizado, mas posteriormente o presidente Lula afirmou que isso não aconteceria. Diante disso, os índios chamaram Meireles para intermediar o conflito. O sertanista tinha a simpatia das lideranças indígenas porque manteve os primeiros contatos com cintas-largas, gaviões e zorós. Além disso, quando aconteceu o massacre dos garimpeiros, ele foi um dos defensores dos guerreiros.

Quando a Polícia Federal iniciou as investigações sobre a matança, Meireles foi até Juína, no Mato Grosso, conversar com o cacique Papai Grande cinta-larga. O grande líder indígena determinou aos demais chefes da etnia que atendessem o sertanista.

Desde então, o funcionário da Funai passou a ser um ponto de referência para os caciques. Ele chegou novamente em Porto Velho na tarde do último sábado, vindo de Brasília. Deveria seguir para a reserva Roosevelt, onde conversaria com os cintas-largas, para pedir mais paciência.

Meireles é um dos responsáveis pelo garimpo de diamantes permanecer fechado.

Ele tinha conseguido convencer os índios de que era melhor esperar pela liberação do governo federal, para que não precisassem garimpar clandestinamente.

De acordo com Vitorino Souza, assessor da presidência da Funai, Apoena estava trabalhando contra o garimpo na reserva. "Na verdade, estava mexendo com o crime organizado", disse Vitorino.

Indigenista - Apoena presidiu a Funai na década de 80. Ele era filho de indigenista e foi batizado com o nome em homenagem a um antigo líder xavante. Foi Apoena quem fez o contato pela primeira com os índios cintas-largas, em 1967.

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