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Ex-ministra tomou decisão em evento na Amazônia

OESP, Nacional, p. A8
15 de Mai de 2008

Ex-ministra tomou decisão em evento na Amazônia
A auxiliares, Marina disse que, na prática, não se demitiu, mas foi expelida do governo por Lula

Marcelo de Moraes

Na última quinta-feira, minutos antes de começar a solenidade de lançamento do Plano de Amazônia Sustentável (PAS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou rapidamente com o grupo de governadores e ministros que participariam do evento. Depois de algumas trivialidades, informou que o coordenador do plano seria o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger. A notícia soou como uma bomba nos ouvidos da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Até então, ela considerava natural e óbvio que coubesse a ela a função de coordenar ações que envolviam diretamente a questão ambiental.

Segundo auxiliares diretos da ministra, naquela hora ela decidiu deixar o cargo. Marina sentiu-se praticamente expelida do governo por Lula, que sequer a avisara da opção por Mangabeira. Ali, ela enxergou também um quadro em que o presidente se alinhava cada vez mais à visão dos governadores da região da Amazônia Legal, defensores da intensificação da produtividade de seus Estados, mesmo que isso tivesse algum custo ambiental.

Na prática, Marina sentiu que tinha perdido seu espaço. Momentos antes viu Lula ouvir calado o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, voltar a dizer que seu Estado não era vilão ambiental, rebatendo as queixas de aumento do desmatamento feitas pelo ministério.

O presidente percebeu o mal-estar da ministra com a situação. Apelou para um de seus já conhecidos improvisos no discurso durante a solenidade e fez um afago público a Marina, sinalizando que seu papel à frente do ministério era importante.

"E como eu disse, lá no Rio Grande do Sul ou eu não sei onde, que você (Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil) era a mãe do PAC, eu sou obrigado a dizer aqui que, embora o companheiro Mangabeira vá ser o coordenador do conselho gestor, ninguém tira de você, Marina, a idéia de ser a mãe do PAS", disse Lula, sem conseguir mudar a expressão fechada do rosto de Marina.

Para amigos, ela se queixou: "Sou a mãe do PAS, mas quem vai criar o filho é outra pessoa." A ministra saiu do evento e disse para seus principais auxiliares que tinha chegado a seu limite.

DESPEDIDA

Marina mandou anteontem uma carta de despedida aos servidores do ministério, do Ibama, da Agência Nacional de Águas, do Jardim Botânico, do Instituto Chico Mendes e do Serviço Florestal Brasileiro. Em duas páginas, agradeceu a colaboração e afirmou que estava "fechando um ciclo". "Enfrentamos muitas dificuldades, mas colhemos resultados gratificantes."

OESP, 15/05/2008, Nacional, p. A8

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