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Evo Morales susta obra financiada pelo Brasil

FSP, Mundo, p. A17
27 de Set de 2011

Evo Morales susta obra financiada pelo Brasil
Estrada da OAS teria um crédito do BNDES no valor de US$ 322 milhões
Governo promete debate sobre obra que cortaria parque nacional após série de protestos e renúncia de ministra

Flávia Marreiro
De Caracas

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou ontem a suspensão da construção de uma estrada financiada pelo Brasil que cortará um parque nacional, em resposta à crise provocada pela repressão a indígenas mobilizados contra a obra. Morales prometeu realizar um debate nacional e um referendo sobre a rodovia.
A ação violenta de policiais para dissolver uma marcha de grupos amazônicos anteontem, num acampamento a 300 km de La Paz, já provocara a renúncia da ministra da Defesa, Cecilia Chacón, e protestos em várias cidades. Em breve pronunciamento, Morales chamou de imperdoáveis os excessos da operação policial. Prometeu que o episódio será investigado por organizações internacionais e órgãos independentes.
Não há números oficiais de feridos, e as autoridades negam que haja mortos. A Igreja Católica e ONGs, porém, dizem que ao menos duas pessoas, entre elas um bebê, morreram na ação.

CUSTO POLÍTICO
O recuo de Morales ocorre após mais de 40 dias de mobilização contra a rodovia, que está sendo construída pela brasileira OAS -80% do financiamento é do BNDES (US$ 322 milhões).
O foco do conflito é o trecho que, pelo projeto original, cortará um território indígena e parque nacional de 1,1 milhão de hectares. Em nota, ontem, o Itamaraty disse que o governo brasileiro estava preocupado com a repressão policial. O texto reafirmava o apoio à estrada, mas argumentava que a obra deve contribuir para o "desenvolvimento e a estabilidade" da Bolívia.
Nos bastidores, a avaliação brasileira era a de que a operação de anteontem foi truculenta e com um custo político alto demais. Imagens de policiais usando gás lacrimogêneo para dissolver a marcha, composta também por mulheres e crianças, povoaram as TVs na Bolívia ontem. Manifestastes foram amordaçados e levados à força em ônibus para municípios vizinhos. Na capital, La Paz, e em Cochabamba, a terceira cidade do país, estudantes e ambientalistas promoveram grandes passeatas em protesto contra a repressão.

AEROPORTOS FECHADOS
Grupos pró-marcha também fecharam três aeroportos no norte do país, segundo rádio local. Na cidade de Rurrenabaque, manifestantes obrigaram a polícia a liberar indígenas detidos durante a dissolução da marcha. A decisão de dissolver a marcha indígena anteontem foi tomada pelo governo após um fim de semana de tensão na região de Yucumo, concentração do protesto.
No sábado, o chanceler do país, David Choquehuanca, que é um dos líderes indígenas mais reconhecidos do governo, foi obrigado a encabeçar a marcha e ajudou os manifestantes a furarem um bloqueio policial.

FSP, 27/09/2011, Mundo, p. A17

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2709201108.htm

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