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Europa rejeita alimentos transgenicos

GM, Administracao & Servicos, p.C3
23 de Set de 2005

Europa rejeita alimentos transgênicos
Leis rigorosas abrem espaço para a entrada de produtos brasileiros. Não há mercado para alimentos transgênicos na Europa, o que transforma o continente em grande potencial de exportação para o Brasil. Esta é a conclusão de relatório elaborado pelo Greenpeace Internacional em 2004, envolvendo 30 varejistas e 30 empresas de alimentos do continente europeu, e a idéia que a entidade vai promover agora no País.
Conforme o relatório, das 60 empresas avaliadas, 49 (27 varejistas e 22 produtores) têm uma política de não utilização de transgênicos na União Européia, e totalizam € 646 bilhões em vendas. O total do mercado de alimentos e bebidas em toda a Europa é de € 1,06 trilhão (cerca de R$ 3,8 trilhões), o que significa que mais de 60% das vendas de alimentos no continente são de produtos não transgênicos.
"É um grande mercado, em que nenhuma empresa escolheria sensatamente ser rejeitada, utilizando ingredientes transgênicos que requeiram a rotulagem do produto final", aponta Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace.
Segundo ela, trata-se de um reflexo da legislação mais rigorosa da Europa e da demanda dos consumidores por produtos não transgênicos. "A legislação européia é a mais vanguardista hoje em relação aos alimentos transgênicos", diz. Determina o limite de 0,9% para uso de transgênicos nos alimentos; acima disso, o produto tem que ser rotulado - o que é válido inclusive para produtos em que não se pode detectar o DNA ou as proteínas geneticamente modificadas no produto final. "No caso de óleo e margarina, por exemplo, não se consegue detectar no produto final e, por isso, é necessário fazer o rastreamento de toda a cadeia produtiva".
No Brasil, também já existe uma legislação nesse sentido desde abril de 2004, apesar de muitas empresas a desconhecerem. "O fabricante tem que fazer a identificação dos produtos em todo o processo, desde quando a soja, por exemplo, sai do campo até o produto final. A diferença é que aqui o limite é de 1% e, principalmente, que a legislação não se cumpre", compara Gabriela.
Entre as empresas, ela aponta que há consciência de que os produtos rotulados sofrerão rejeição e, por isso, não são identificados. "Em julho de 2004 o Iser (Instituto de Estudos da Religião) realizou um estudo com os consumidores, que apontou que 74% dos brasileiros não querem comer transgênicos", conta. "Encaminhamos esse resultado para as indústrias, que estão cientes da rejeição."
Já entre os consumidores, não há consciência do consumo. "O consumidor brasileiro não é informado: ele compra sem saber. As donas de casa não têm consciência de que consomem produtos com ingredientes transgênicos, nem sabem o que é o transgênico", diz. "É uma diferença crucial em relação ao mercado europeu".
Vuolo afirma que não existe consenso científico sobre os possíveis perigos dos transgênicos para a saúde humana: "Há indícios de impacto, mas nada conclusivo. Em relação ao meio ambiente, entretanto, há aumento do uso de agrotóxicos, que resulta na perda de biodiversidade, pois afeta o equilíbrio ecológico agrícola", afirma. "Além disso, há risco de poluição genética, que já acontece no México. No país, maior centro de origem do milho, houve contaminação de diversas áreas após o cruzamento do DNA transgênico com variedades tradicionais que, transformadas, deixam de existir".
Vantagem
Economicamente, entretanto, o relatório aponta uma outra direção para o tema da produção ou não de alimentos geneticamente modificados. "Mostra para o mercado brasileiro uma grande vantagem para quem vende matéria-prima não transgênica. A Europeu é o maior mercado consumidor do mundo", afirma Gabriela. "E o Brasil é um grande fornecedor, juntamente com os Estados Unidos e Argentina. Mas esses dois últimos países quase não têm mais produtos não transgênicos, o que abre uma grande oportunidade econômica para nós".
O Greenpeace trabalhará essa idéia junto aos agricultores e cooperativas, e também apresentará o estudo a duas comissões da Câmara dos Deputados: a de Indústria, Comércio e Desenvolvimento, e a Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Na Europa, 90% dos 30 maiores varejistas (ou seja, 27 empresas) se comprometeram a não produzir marca própria com transgênicos para comercialização naquele continente - entre eles, redes como Intermarché, Carrefour, Casino, Wal-Mart e Marks & Spencer. "Mas não significa, de fato, que as varejistas não vendam transgênicos".
Entre as grandes fabricantes que garantiram não utilizar transgênicos na produção mundial estão Heineken, Barilla, Carlsberg e Oetker. Já a Kellog e Nestlé, por exemplo, se comprometeram a não usar transgênicos apenas nos produtos comercializados na Europa.
No Brasil, os grupos Carrefour e Pão de Açúcar (Casino) também não utilizam transgênicos em suas marcas próprias. Em relação aos rótulos de identificação das demais marcas, as varejistas atribuem a responsabilidade - que não vem sendo cumprida - à indústria.
Não há dados oficiais sobre a produção de transgênicos no País. Conforme Gabriela Vuolo, o Ministério da Agricultura pediu a assinatura de um compromisso por parte dos produtores, mas isso ainda não aconteceu. "É praticamente um mercado negro, apesar de ter sido liberado oficialmente. Ninguém sabe quando, quem, quanto e onde vendeu-se produtos transgênicos".
kicker: Ainda não existe consenso científico sobre os possíveis danos dos produtos modificados à saúde humana

GM, 23-25/09/2005, p. C3

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