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EUA promovem 'ecopragmatismo' para evitar regulação

FSP, The New York Times, p. 3
17 de Out de 2015

EUA promovem 'ecopragmatismo' para evitar regulação

Por ERICA GOODE

Quando, no mês passado, o governo Obama anunciou que não acrescentaria o tetraz-cauda-de- faisão (Centrocercus urophasia nus) à lista de espécies em perigo de extinção, alguns conservacionistas criticaram a decisão. "É um sinal de que, como sempre, a política tomou conta do processo", disse Erik Molvar, da organização Wild Earth Guardians, que fazia lobby para proteger a ave.
No entanto, várias outras organizações aplaudiram a decisão e o enfoque proativo do Departamento do Interior: tendo como pano de fundo a ameaça de regulamentação sob a Lei de Espécies em Risco de Extinção, o Departamento instigou Estados, agências federais e proprietários privados de terras a colaborarem com um plano de conservação que pudesse evitar a inclusão da espécie na lista de ameaçadas.
A secretária do Interior, Sally Jewell, disse que a estratégia procura levar em conta tanto os interesses econômicos quanto as necessidades da ave, que vem sendo prejudicada pelo desenvolvimento, por incêndios florestais, por espécies invasoras e por outras ameaças. A área envolvida -milhões de hectares em dez Estados do oeste americano - faz do esforço um dos maiores projetos de conservação voluntários.
Para muitos conservacionistas, a decisão do governo reflete uma mudança mais ampla no pensamento ambiental.
Tradicionalmente, os programas de conservação de espécies são voltados à proteção de plantas ou animais em áreas específicas
e têm o objetivo de restaurar a maior área possível de terra à sua condição virgem anterior.
Esses esforços de conservação normalmente são estruturados em torno das necessidades de uma espécie em particular, sendo pouco ou nenhum esforço feito para conciliar essas proteções com as necessidades mais amplas da sociedade humana.
Frequentemente, empresas e donos de terras são encarados como atores hostis.
No entanto, cada vez mais conservacionistas argumentam que esse enfoque é estreito demais, especialmente em uma era de mudanças climáticas e crescimento populacional acelerado.
Até o final do século, segundo projeções, até 10 milhões de humanos estarão disputando o espaço disponível com outras espécies. E as mudanças climáticas já estão obrigando espécies a se deslocar para territórios novos, em migrações cujo número deve crescer no futuro.
Alguns ambientalistas argumentam que, para que a conservação tenha êxito, é preciso que ela funcione em escala maior, voltada não apenas à preservação de espécies isoladas em pequenas ilhas de natureza intocada, mas em paisagens amplas e ecossistemas inteiros, focando também os benefícios que a natureza traz para os humanos.
Esta nova visão, às vezes descrita como "ecopragmatismo", já é aceita por cientistas, em graus diversos. Porém, muitos ativistas ambientais argumentam que aqueles que definem a natureza dessa maneira essencialmente já desistiram de protegê-la.
"Acho que está em curso uma luta pela alma do movimento conservacionista", disse Pat Parenteau, professora de direito ambiental na Escola de Direito de Vermont. "Os pragmáticos estão dizendo 'conformem-se, acostumem-se', e a velha escola está dizendo 'não enxergamos o caminho que vocês descrevem'."
Promulgada em 1973, a Lei de Espécies em Risco de Extinção visava garantir "tratamento emergencial", na descrição feita por um cientista, a espécies à beira da extinção. A lei proibia ações que comprometessem ainda mais as espécies em risco e previa a adoção de esforços para restaurar os habitats e elevar o número de representantes das espécies.
Conservacionistas de todos os vieses defendem alei, observando que ela é a norma ambiental mais forte dos EUA. No entanto, alguns dizem que ela está desatualizada e que não é usada com eficácia.
Gretchen Daily, professora de ciências ambientais na Universidade Stanford, na Califórnia, disse que a lei, ao focalizar espécies individuais e enfatizar a regulamentação, em detrimento dos incentivos, opôs usuários de terras a conservacionistas e "nunca promoveu a ideia de que pudéssemos harmonizar atividade humana com conservação".
Ela e outros cientistas disseram que alei não tem como fazer frente aos desafios de um mundo em que ecossistemas inteiros estão em risco e grandes extensões de habitats estão desaparecendo.
Uma discussão semelhante foi travada um século atrás.
John Muir, o fundador da organização ambiental Sierra Club, dizia que a natureza deveria ser preservada por ela própria e protegida contra invasores humanos.
Gifford Pinchot, o primeiro diretor do Serviço Florestal, enxergava os humanos como guardiões da natureza que teriam o direito de usar a terra para agricultura, pastagem e extração de madeira, desde que com prudência.
Para alguns cientistas ambientais, as duas visões não precisam ser antagônicas, nem mesmo hoje.
"Não vejo como problema conversar em vários níveis sobre a importância de conservar a natureza", disse Taylor Ricketts, diretor do Instituto Gund de Economia Ecológica, na Universidade de Vermont. "O grande equívoco foi apresentar isso como uma opção."

FSP, 17/10/2015, The New York Times, p. 3

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