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Etanol sofre primeiro revés na UE

OESP, Economia, p. B4
15 de Jan de 2008

Etanol sofre primeiro revés na UE
Academia de Ciências do Reino Unido pede mais 20 anos para que o continente se adapte aos biocombustíveis

Jamil Chade

A Academia Real de Ciências do Reino Unido - conhecida como Royal Society - alerta que as metas para o uso do etanol na Europa não ajudarão a cortar as emissões de dióxido de carbono (CO2) e pede um prazo de mais 20 anos para que o continente se ajuste aos novos combustíveis. Ontem mesmo, a União Européia (UE) anunciou que poderá rever a meta de ter 10% de seus carros movidos a etanol até 2020.

Trata-se da primeira grande virada contra o etanol por parte da UE desde que a euforia sobre o combustível começou há dois anos no continente. Nos últimos meses, várias organizações não-governamentais vêm questionando o uso do etanol na Europa, o que chegou a levar o Brasil a organizar palestras e encontros para negar os efeitos negativos do combustível para o meio ambiente.

O estudo da academia britânica foi encomendado pelos dirigentes europeus, que queriam uma palavra final sobre o impacto do etanol para o meio ambiente. Segundo o estudo, esforços dos governos para introduzir o etanol não conseguirão reverter as emissões de CO2.

Na Inglaterra, o plano era de ter 5% do consumo alimentado por biocombustíveis até 2010. Mas a estratégia pode acabar exigindo que os ingleses usem fontes de energia pouco eficientes para que possam cumprir a meta. Em lugar de colocar metas de uso do biocombustível, os especialistas indicam que o governo deveria promover metas de redução de emissões.

PAPEL IMPORTANTE

Segundo John Pickett, um dos autores do projeto, isso irá incentivar os produtores a ampliar a produção dos combustíveis já existentes e acelerar o desenvolvimento de novos produtos.

A Academia de Ciências não nega que os biocombustíveis podem ter um "papel importante" na luta contra as mudanças climáticas. Mas o que Pickett argumenta é que nem todos os biocombustíveis têm o mesmo efeito, e a devastação pode estar ocorrendo nas florestas brasileiras.

"A redução de emissões depende de como as plantas são cultivadas (para fabricar o etanol) e como são convertidas em combustíveis. Portanto, aumentar de forma indiscriminada o total de biocombustível não levará automaticamente à maior redução de emissões"', disse Pickett.

Como recomendação, a Academia pediu que as metas impostas fossem prorrogadas por mais 20 anos para possibilitar que empresas possam fazer os investimentos necessários nas produções consideradas como as mais adequadas no etanol. Os cientistas também sugerem que cada um dos biocombustíveis seja estudado e uma avaliação ambiental e social sobre cada um deles seja produzida.

Para concluir, o estudo ainda pede que a UE adote leis que garantam que apenas biocombustíveis que reduzam as emissões de CO2 sejam autorizados a ser desenvolvidos no continente.

Em entrevista à BBC, o comissário europeu para o Meio Ambiente, Stavros Dimas, admitiu que prefere abandonar a idéia das metas a pôr em risco o ambiente. Ele ainda reconheceu que, quando a idéia de introduzir o etanol foi adotada em 2005, poucos sabiam dos potenciais problemas, como o desmatamento de florestas no Brasil, Colômbia e Ásia.

BARREIRAS

Outro problema teria sido a alta nos preços de alguns alimentos por causa do maior uso de terras para a plantação de milho nos Estados Unidos. "Os problemas ambientais e sociais provocados pelos biocombustíveis são maiores do que pensávamos", disse Dimas.

Já a Academia de Ciências elogia os esforços do Brasil em garantir que o impacto social do etanol seja amenizado. Mesmo assim, para tentar evitar danos, a UE está elaborando um certificado ambiental e social que todos os produtores terão de ter para poder vender o etanol no mercado europeu.

O Brasil já alertou aos europeus que não aceitará que o certificado represente uma nova barreira ao comércio e ameaça levar o caso aos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas o certificado deve ser mesmo adotado nos próximos meses.

Na Europa, o setor dos transportes apresenta um consumo de 84 milhões de barris de petróleo por dia. Em 2030, essa taxa chegará a 116 milhões de barris por dia.

No caso do desenvolvimento de biocombustíveis sintéticos, as estimativas são de que o custo de produção seja de até US$ 110 por litro, valor acima do que hoje é pago pelo petróleo.

OESP, 15/01/2008, Economia, p. B4

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