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Estudo técnico condena a Araguaia-Tocantins

Diário de Cuiabá-MT
Autor: Alecy Alves
28 de Jun de 2001

Estudo técnico condena a Araguaia-Tocantins

Entidades ambientalistas vão pedir a intervenção do MPF

Os ambientalistas e índios mato-grossenses têm uma série de motivos, sustentados por estudos técnicos, para discordar da implantação da hidrovia Araguaia-Tocantins, proposta pelo Ministério dos Transportes, dentro do programa Avança Brasil.

Reunidos ontem em um seminário na Universidade Federal de Mato Grosso, representantes de diversas comunidades indígenas, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), do Instituto Centro Vida (ICV) e de outras organizações sociais, além dos deputados petistas Gilney Viana e Serys Slhessarenko, produziram a Carta de Junho, um documento que retrata todas as preocupações sobre a obra — e que deve ser entregue ao Ministério Público Federal na próxima semana.

Um estudo independente feito pela fundação do Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural (Cebrac) concluiu que o EIA/Rima oficial (um estudo sobre impactos ambientais obrigatório para licenciamento de obras como hidrovia), não apontou as fragilidades ambientais da bacia do Araguaia.

O geólogo Tadeu Veiga, da empresa Geologia, Mineração e Recursos Naturais, que fez parte da equipe que produziu o estudo da Cebrac, vê o aprofundamento do canal rio, previsto no projeto para 50 pontos, como um dos principais problemas.

Por ser um rio de planície e bastante dinâmico, segundo Veiga, não se pode dimensionar as conseqüências nos locais dessas intervenções. São imprevisíveis, completou o geólogo, ponderando que os estudos mostraram que os danos não ocorriam somente no ponto aprofundado.

De acordo com Veiga, haveria desmoronamentos nas margens e os lagos próximos poderiam secar. Essa hidrovia é uma irresponsabilidade, criticou o geólogo.

Vicente José Puhl, membro da coordenação do Formad, acredita que no momento, quando se discute a ameaça de escassez de água doce, não se pode admitir uma obra que mexe diretamente com a qualidade dos recursos hídricos, como a hidrovia Araguaia-Tocantis.

Na opinião de Puhl, ao invés de pensar em produzir e escoar soja para exportação, atendendo a interesses de pequenos grupos, os governos deveriam levantar outras alternativas de produção para consumo interno.

Os 450 índios Tapirapé, que vivem próximos ao rio Araguaia, nos municípios de Confresa, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha, não admitem a possibilidade de implantação da hidrovia.

Para o cacique Paulo Tapirapé, o governo prejudicou demais, e continua prejudicando, os índios com a rodovia Transamazônica, planejada como solução para o escoamento da safra e que até hoje não foi concluída.

O rio Araguaia é vida para nosso povo; temos que fazer algo contra sua destruição, protestou. O cacique acha que se a hidrovia for efetivada, os rios que abastecem as aldeias, como o Tapirapé, vão sofrer os impactos ambientais e influenciar nos hábitos e costumes de seu povo.

Dailor Romio, diretor-técnico da Fundação Estadual do Meio Ambiente, que participou do seminário, disse que o EIA/Rima contestado pelos ambientalistas ainda não recebeu parecer da Fema e que por isso não poderia se posicionar. Preferimos submetê-lo a estudo na equipe técnica multidisciplinar, ponderou.

A empresa Docas do Paraná, responsável pela construção da hidrovia, também foi convidada para o seminário, mas não mandou representante.

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